2020 está chegando ao fim, e nada melhor que uma listinha de leituras pra encerrar o ciclo de 2020 e abençoar o próximo que está começando. Como eu disse, esse ano eu não vou fazer retrospectiva muito elaborada. Por isso resolvi fazer, nos moldes antigos, uma retrospectiva literária, como costumava ser feita nos primeiros anos de blog. Aliás, se você quiser saber um pouco da história desse blog, eu contei nesse post aqui um pouco dos nossos 8 anos de história. Vai lá conferir e depois me conta!
Sobre as leituras de 2020
Em 2020 eu li 14 livros. Bati minha meta pessoal de ler 12 livros (um por mês), e também cumpri o desafio do skoob. Um avanço, comparado aos dois anos anteriores que li menos de 10.
Eu sei que nunca vou recuperar o ritmo de leitura da minha adolescência (eu lia pelo menos 30 livros no ano, tendo lido 60 em 2013), mas quero conseguir manter um ritmo em que eu leia pelo menos 24 livros durante o ano, uma média de dois livros por mês. Não é questão de quantidade, mas de ter um ritmo de leitura legal para conseguir ler a quantidade de livros que gostaria de ler em vida, e ainda dar conta das leituras que eu preciso fazer em vida, principalmente por causa da minha formação. Enquanto eu não consigo os 24, estou feliz com minhas 14 leituras desse ano 💙
Retrospectiva Literária 2020: As 4 melhores leituras do ano
Essa lista não está necessariamente em ordem de importância. Algumas leituras são teóricas/acadêmicas, enquanto outras são ficção, e eu tenho dificuldade (nem acho que seja possível) colocar hierarquia entre esses dois tipos de leitura. Eu geralmente separo as duas categorias, mas como não li muitos livros de ficção e muitos livros teóricos, achei difícil selecionar quatro melhores para as duas categorias, principalmente porque teria que incluir livros que não gostei nessas listas. Desse modo, selecionei livros de ficção e não-ficção, pensando no quanto as leituras me acrescentaram esse ano. Vamos lá!
1- Não apresse o rio (ele corre sozinho) - Barry Stevens
Eu fiz uma resenha super elaborada desse livro, mas na hora de mandar pro skoob, ela não foi. Esse é um livro de não-ficção, e é diferente de tudo que eu conheço como livro na vida. Comprei ele de um sebo, mas já conhecia o título de outras épocas. O livro é uma espécie de diário, em que a autora conta suas experiências em uma comunidade de adeptos da Gestalt-Terapia.
Explicando brevemente para quem é leigo: a Gestalt-Terapia é uma abordagem da Psicologia, focada no indivíduo, no "aqui-e-agora" e na relação entre cliente-terapeuta. É também uma visão de mundo e quase um estilo de vida.
Ao mesmo tempo em que conta as atividades e rotina nessa comunidade, a autora escreve sobre o seu momento presente, o momento em que está escrevendo o livro (sim! ela narra a si mesma escrevendo), sobre os dias que passou em uma comunidade indígena, sobre contos e histórias que já escreveu, algumas reflexões que faz, acrescentando até mesmo rabiscos e recortes na narrativa. Como eu disse, é diferente de tudo que já li. O livro traz a sensação de você estar lendo o diário de alguém, mas sem ser tão íntimo, ao mesmo tempo em que a autora parece estar frente a frente com você, conversando e te convidando a pensar.
Em vários momentos precisei fazer uma pausa para respirar, olhar para frente e refletir um pouco. Às vezes me sentia mais leve, conectada comigo mesma, com a natureza e com a vida. Fotografei vários trechos e tive vontade de mostrar pra todo mundo. Foi uma leitura que valeu muito a pena, e eu queria muito que todos tivessem a oportunidade de ler e ter as mesmas sensações de paz e completude que tive quando li. Vale a pena demais.
2- Contra Tempo (Henri B. Neto)
Contra Tempo conta a história de Nicolas, um garoto despreocupado e tranquilo que está apaixonado por seu colega de república, Eduardo. Nicolas segue sua vida buscando evitar problemas, mesmo que isso signifique esconder dos outros quem ele é, incluindo os sentimentos que nutre por seu colega de casa. A vida de Nicolas segue normalmente até que um acontecimento misterioso o faz ter um eterno Déjà Vu, em que todos os dias Nicolas acorda em seu aniversário, repetindo o mesmo dia de novo.
Eu amei essa leitura. Leve, envolvente, com toques de ficção científica e fantasia, coisas que adoro. Li o livro todo de uma vez, ansiosa para ver o desfecho. Me envolvi com os personagens e fiquei feliz com a lealdade e o companheirismo dos amigos de Nicolas. Foi divertido ver como cada dia se desenrolaria, apesar de serem quase os mesmos, e desejei que tivessem mais capítulos, com outros dias e acontecimentos diferentes. Dias que se repetem é um tema até um pouco comum em séries e filmes, mas ainda assim é um tema que dá pra ser explorado e o Henri fez isso muito bem.
O único ponto que não me agradou nessa leitura foi um personagem que aparece como um bully, e que fica importunando Nicolas desde a época da escola. Sei que bullying é um assunto sério e acontece nas escolas, mas ver um bully no cenário de universidade, com um valentão e seu grupo de amigos que se dedicavam a provocar Nicolas, me trouxe uma sensação de estranheza, como se eu estivesse lendo uma história norte-americana, com líderes de torcida e casacos de time, e não brasileira.
Sei que acontece em nosso país, mas geralmente, em caso de adultos ou jovens adultos, pelo menos o que eu observo, é que os preconceitos se tornem mascarados, dissimulados, sob um roupagem falsa de "brincadeira" entre colegas e até mesmo sob a justificativa de que "são só piadas". Entendo que o livro foi escrito para um público jovem e por isso as relações e os conflitos são de adolescentes, mas não fez sentido para mim isso tudo acontecer dentro de uma universidade, em que a maioria das pessoas já são um pouco mais velhas, inclusive tendo vários adultos no meio. Ainda assim, isso não diminui o quanto Contra Tempo é um ótimo livro, com ótima representatividade, muito necessária em nosso meio literário, e que vale muito a pena a leitura, principalmente para quem gosta de ficção e fantasia.
3- Robopocalipse (Daniel H. Wilson)
Robopocalipse tem como pano de fundo a (muito explorada) revolução das máquinas. O dia em que os humanos criariam uma máquina que enfim teria capacidade de se rebelar e se tornar autônoma, subjugando os humanos. Apesar de seguir o arquétipo "criatura se volta contra o criador", Robopocalipse tem uma premissa diferente ao contar sobre a revolta das máquinas. Ele começa pelo final, no tempo em que a guerra contra humanos e robôs já chegou ao fim, e os humanos saíram vitoriosos. A partir de então, a narrativa vai recuperando fragmentos da história, em que cada capítulo narra um acontecimento que se deu no tempo em que as máquinas começaram a se tornar autônomas, até o início e posterior fim da guerra.
O formato de Robopocalipse faz com que o livro se pareça muito com uma série, em que os capítulos fazem parte de uma linha temporal, sem necessariamente dar continuidade ao anterior, sendo unidos pelo fio narrativo do protagonista e sobrevivente, que encontrou algumas fitas de gravação das máquinas, ao derrotar a última máquina existente, e líder de todas as outras. São essas fitas que contam a história desde o princípio, em várias partes do mundo, ao mesmo tempo que compunham um estudo das máquinas sobre os seres humanos.
Foi uma leitura muito prazerosa, principalmente por mostrar várias facetas da guerra, não focando apenas em um país ou comunidade, mas mostrando tudo em um contexto global. Assim, temos capítulos que se passam no Japão, nas Américas, em grandes cidades, em zonas rurais, em comunidades indígenas, nas zonas de guerra... Enfim, o livro mostra como a rebelião das máquinas atingiu todas as pessoas, devido aos efeitos de futuro distópico cada vez mais globalizado e conectado, em que tudo, até mesmo brinquedos, máquinas de sorvete e casas são robôs e tem acesso a internet.
Apesar de se tratar de um livro sobre revolução das máquinas, o livro não explora muito o início da guerra, ou a reação das pessoas e dos governos quando as máquinas "despertaram" e começaram a agir por conta própria. O livro também não explora muito como era o mundo antes desse despertar, então não dá pra definir o quanto o mundo estava automatizado antes disso acontecer. São poucos os capítulos que trazem esse cenário, e quando trazem, o foco está nas personagens que aparecem e nas suas ações, sem uma preocupação muito grande em descrever o contexto geral dos acontecimentos. Ainda assim é uma leitura envolvente e, apesar do tema parecer clichê, o autor soube explorar de forma que não ficasse repetitivo. Li bem rapidinho porque não conseguia largar, foi uma ótima leitura.
4- A vida não é útil (Ailton Krenak)
Eu selecionei somente esse livro do Krenak para essa publicação, mas a verdade é que eu queria ter escolhido todos os três (A vida não é útil, Ideias para adiar o fim do mundo, O amanhã não está a venda), mas ficaria muito repetitivo. A verdade é que esse livro já traz, de certa forma, um pouco do que está nos outros três. Conheci o autor por causa de "ideias para adiar o fim do mundo", que eu achei de fato que era um livro de ideias (risos), mas fiquei feliz com meu engano. Porque é um livro que traz várias reflexões, e caiu como uma benção nos tempos que estamos vivendo.
O autor traz, com uma linguagem muito simples, quase como se estivesse na nossa frente, uma reflexão sobre como o nosso mundo está funcionando atualmente, e de como nosso sistema está nos afastando da natureza, dos rios, dos lagos, da diversidade que existe no nosso mundo, e como estamos nos autodestruindo por causa disso. Ao mesmo tempo em que aponta para esse cenário, algo que já estamos até mesmo um pouco cansados de ouvir, Krenak nos mostra que há sempre outros caminhos possíveis, que nossos modos de vida podem ser reinventados e que é possível viver de outra forma. Foram leituras que me encheram de esperança em dias melhores, e que nós precisamos lutar por isso. Estou mencionando apenas um, mas todos os três valem a pena e devem ser lidos por todas as pessoas.
Essas foram minhas melhores leituras de 2020. E você, leu alguma coisa esse ano? Quais foram suas leituras favoritas de 2020?
- quarta-feira, dezembro 30, 2020
- 9 Comentários