Às vezes eu me pego entrando nesse blog (o meu blog) e relendo algumas postagens antigas, vendos os comentários, observando de longe quem eu era, as coisas que costumava pensar e escrever. Percebo que o blog está desatualizado há alguns meses, e faço uma anotação mental que preciso atualizá-lo, um dia. Nenhuma cobrança. Nenhum sentimento de "eu deveria" ou "eu preciso" fazer isso. Nada disso. Só um lembrete, como uma nota de rodapé, que, se um dia surgir vontade (ou assunto, ou tema, ou demanda) eu atualizo o blog. E sei que isso vai acontecer quando for a hora, sem forçar nada, sem pressão, sem angústia. E então, após pensar tudo isso, brevemente, começo a reler algumas publicações antigas, na tentativa de compreender como eu conseguia fazer três publicações por semana, às vezes até mais, que me faziam precisar salvar algumas em rascunho pra não saturar de publicação. Releio principalmente as publicações na categoria Pessoal, que são os textos onde coloquei minha alma, e então entendo. Todo aquele sentimento, toda aquela angústia, vazio e tristeza precisava sair de alguma forma. Já tem um bom tempo que (Deusa seja louvada!) eu não me sinto dessa forma.

Convivi tanto tempo com ansiedade, depressão e desânimo, que nunca achei que fosse possível viver de outra forma. Não sabia que existia outra forma. E então, quando finalmente consegui passar por tudo isso (com ajuda de terapia, de medicamentos, de amigos, de mim mesma, e mais uma porção de coisas), percebi que não sabia — não sei — viver de outro jeito. Às vezes estou simplesmente vivendo minha vida, sem pensar exageradamente sobre tudo, sem me sentir culpada por qualquer motivo, sem ficar ansiosa e suando e tremendo e nervosa e sem consegui dormir, simplesmente vivendo, e me vem a sensação de estar esquecendo de alguma coisa, de estar faltando algo. Eu paro um pouco pra pensar e só então me dou conta que, ó, tinha todo um desespero aqui, uma angústia ali, uma vontade de morrer acolá. Então eu acho graça de mim mesma (coisa que aprendi a fazer!) e percebo que nossa vida é tão doida, mas tão doida, que eu me sinto estranha por ter superado aquilo que eu lutei a vida toda pra superar. Me livrei de um peso enorme, minha vida está muito mais leve, e a leveza é justamente o que me causa estranhamento. Olha como as coisas são!

E então me vem esse blog. A vontade de escrever, de atualizar, de falar algo. Percebo que tenho dificuldade em fazer isso porque, todo aquele sentimento que quase transbordava e que eu escrevia pra tentar não surtar, não está mais aqui. É claro que eu não quero de volta. Não desejo viver aquilo de novo. Não mais escrever seria um preço pequeno a se pagar, se um preço fosse necessário. Mas eu sei que não é. Sei que tem outro caminho — sempre tem outro caminho. Só preciso encontrar ele. Preciso descobrir outras coisas pelas quais escrever, já que agora não preciso tanto escrever sobre angústias. Preciso encontrar novos hobbies, já que os que eu tinha já não servem mais apenas como escape (alô literatura!), preciso descobrir e criar novas formas de me relacionar com as velhas coisas que eu me relacionava, visto que aquelas relações já não servem, não fazem mais sentido e precisam ser renovadas. Não se trata de se livrar de tudo, mas de encontrar novos meios de manter esses pequenos prazeres da minha vida, sem passar pelo caminho da angústia, ou vou acabar, cedo ou tarde, adoecendo de novo. E isso eu definitivamente não quero pra mim (mesmo que saiba que estou sujeita as circunstâncias da vida e que é claro que pode sim acontecer). Não ter medo de sofrer é algo que venho aprendendo um pouquinho todo dia. 

Entenda que esse post não é pra esfregar na cara de ninguém como minha saúde mental anda boa (risos). Eu tenho meus altos e baixos, não virei um Buda, não atingi o Nirvana, ainda estou girando no Samsara. Mas existe uma diferença gritante quando o seu mais baixo era um abismo no fundo do poço e hoje é o buraco no asfalto que a prefeitura não arruma. Pra mim, isso é motivo de comemorar. Se me dissessem há quatro anos atrás que hoje eu estaria assim, eu não acreditaria. Não acreditaria mesmo. Eu não acreditava que as coisas podiam mudar até eu me dar conta que elas já tinham mudado. E eu mesma nem sei muito bem como isso aconteceu, só sei que, quando eu mando uma mensagem pra alguém e não viro a noite remoendo tudo o que eu disse, chorando e pensando no que eu fiz de errado, eu percebo que algo aconteceu, e que bom, já não aguentava mais. Ainda há esperança. Durmo um pouco mais, apesar de perder alguns minutos do meu dia entendiada, procurando o que fazer, já que quando você não vive pensando exageradamente em qual é o sentido das coisas, sobra mais tempo livre no seu dia. Não sei muito bem o que fazer com esse tempo (assim como não sei muito bem com o que alimentar esse blog), mas vou descobrindo aos poucos. Nunca tive a oportunidade de viver dessa forma, então ainda estou aprendendo. Estou aprendendo a viver bem, e que coisa boa! Sonhei durante muito tempo em viver desse jeito