Comecei a assistir Carnival Row por indicação de uma amiga, que estranhamento ainda não assistiu a série. Procurávamos uma série pra ver juntas, visto que moramos longe uma da outra, e ela me sugeriu essa. O tempo passou, nós acabamos esquecendo do combinado, e em um final de semana de tédio, resolvi começar a assistir a série sem ela (perdão pela quebra de contrato, Deni ♥). Fiquei imediatamente viciada e, mesmo com os episódios de quase uma hora de duração, terminei de assistir a primeira temporada completa em dois finais de semana.
Carnival Row, série da Amazon lançada em 2019, se passa em um universo fantástico onde seres mágicos, como fadas, kobolds, faunos e outros seres mitológicos existem e coexistem com os humanos. Nesse mundo, o reino das fadas foi invadido e tomado por um grupo chamado O Pacto, matando as fadas e obrigando as sobreviventes a se refugiarem em outros países. Vignette Stonemoss (Cara Delevingne) é uma dessas fadas, que, sem uma terra para viver e fugindo da guerra, acaba indo parar em uma cidade chamada Burgo, onde (como já era de se esperar), fadas e criaturas mágicas são tratadas como "cidadãos de segunda classe", sofrendo preconceitos, discriminação e uma série de violências, servindo apenas como criados e empregados.
Vignette ou Vini. Infelizmente os nomes são muito chatinhos de pronunciar ou memorizar |
Uma série de acontecimentos estranhos ocorrem em Burgo, resultando principalmente em fadas assassinadas, mas ninguém dá a mínima, afinal elas são "critch". Critch é um termo pejorativo usado para se referir a qualquer ser não-humano, de forma generalizada, reduzindo suas individualidades e diferenças a uma só coisa, um critch. É nesse cenário que somos apresentados ao inspetor Rycroft Philostrate (Orlando Bloom), o único policial decente da cidade, que decide investigar o assassinato das fadas, apesar da falta de disposição dos seus colegas. Aos poucos, pistas desses assassinatos são reveladas, formando uma trama de acontecimentos que interliga os personagens em um evento único.
O paralelo que Carnival Row faz com o nazifascismo, racismo, xenofobia e outras formas de preconceito é bastante óbvia. Tão óbvia que seria preciso um esforço muito grande pra não perceber. O racismo* está nas atitudes das pessoas, nas falas, na ausência de direitos dos seres não-humanos, na violência policial, nos empregos possíveis para esses seres, enfim, em tudo. Está completamente escancarado, existe até mesmo um parlamento que discute se Burgo deveria realmente refugiar essas pessoas, afinal, "elas corrompem a sociedade e ameaçam os 'cidadãos de bem' de Burgo".
*estou usando racismo de forma ampla aqui, porque embora se encaixe no preconceito contra raças (literalmente, no caso da série), eu acredito que os discursos e as falas dos personagens estão mais próximos a um discurso nazifascista, que engloba o racismo, mas traz também características de criação de um inimigo, purificação da sociedade, etc.
Particularmente, não gosto muito quando os paralelos são tão óbvios assim, porque isso abre brecha para que as pessoas assistam, se comparem com nossa sociedade atual e pense que somos mais progressistas, que evoluímos em comparação com a realidade da série e que racismo é algo que ficou no passado. Aquela história do "racismo é algo que já existiu, mas agora não tem isso mais" que as pessoas usam pra invalidar não só o movimento negro, mas qualquer movimento de minorias no geral. Penso que hoje os preconceitos são muito mais velados e sutis que os mostrados na série, mas continuam existindo, com a mesma gravidade de antes, e fazer esse tipo de paralelo tão escancarado pode acabar tendo o efeito inverso: de chocar as pessoas e causar repulsa, mas não de fazê-las refletir se estão agindo dessa forma. Ainda assim, é interessante ver tudo isso mostrado na tela, e considerando os tempos que estamos vivendo, talvez seja mesmo necessário mostrar o óbvio.
Agneus, um fauno. Outro personagem importante para a história |
Voltando aos mistérios da série, o roteiro é impecável. Os segredos são desvendados aos poucos. A medida que vamos conseguindo pistas, tudo fica ainda mais intrigante, dando vontade de assistir mais e mais, até entender tudo. Eu só consegui chegar a algumas conclusões segundos antes da informação ser revelada oficialmente nos episódios, o que para mim é ótimo, porque mostra que o enredo faz sentido, já que consegui chegar aquela conclusão sozinha, e ao mesmo tempo não é tão fácil de solucionar a ponto de conseguir prever o final vários episódios antes de acontecer. E rapaz, que final é esse? Fui completamente surpreendida, todas as peças se encaixaram, sem nenhuma ponta solta, e ainda ficou uma abertura para uma segunda temporada que promete demais. Eu já estou ansiosa pra saber como os fatos se desenrolam e o que vai ser a premissa da segunda temporada a partir do ponto em que parou. Sério, se eu não tivesse uma política anti-spoiler, eu contaria tudo pra tentar convencer vocês a assistir.
Um pequeno aviso: tem muitas cenas de sexo, talvez seja melhor não assistir na sala, dependendo de como são as coisas na sua casa |
Por fim, Carnival Row é uma série incrível, figurinos impecáveis, ótimos atores, roteiro bem elaborado e envolvente. Confesso que a primeira vista fiquei receosa porque fadas é uma criatura que não me desperta interesse nenhum, mas fiquei feliz de ter deixado esse receio de lado pra assistir a série. Foram dois finais de semana muito bem gastos da minha vida, e estou ansiosa pra gastar mais deles em novas temporadas. E se você não conhece essa série, tire um tempo pra assistir porque vale a pena demais, depois volta aqui pra me contar o que achou.
A série Carnival Row está disponível no Prime Vídeo, que é um serviço de streaming da Amazon. Você pode assistir Carnival Row clicando nesse link caso seja um assinante, e caso não seja, também dá pra assistir usando uma versão de testes gratuita por 30 dias, basta fazer o cadastro clicando aqui.
- segunda-feira, julho 19, 2021
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