O Dilema das Redes (The Social Dilemma) - 2020

quinta-feira, outubro 08, 2020

A imagem possui um fundo preto, com o formato de uma cabeça do lado direito, brilhando em cores neon. Junto a cabeça, vários circuitos e formas geometricas simulando peças de computador. A esquerda está escrito o dilema das redes

Assisti O Dilema das Redes, documentário da Netflix que está sendo muito comentado essa semana. O documentário possui 1:35h de duração, e busca explicar como as as mídias digitais, e principalmente as redes sociais, hoje, constituem um enorme problema para a nossa sociedade, afetando desde a saúde mental de crianças, adolescentes, jovens e adultos, à uma ameaça a democracia de diversos países, a segurança das pessoas e nosso futuro enquanto humanidade. Para compreendermos a dimensão do impacto das redes em nossas vidas, O Dilema das Redes nos apresenta entrevistas de diversos ex-funcionários de redes sociais, como o Facebook, Google, Twitter, etc. além de outras pessoas que possuem trabalhos relacionados a internet. As entrevistas são intercaladas com um pequeno filme, simulando o impacto das mídias e das redes na dinâmica de uma família. 

Apesar de estar familiarizada com o debate de como as redes sociais afetam a vida das pessoas, me surpreendi muito com esse documentário. Eu esperava uma visão sensacionalista, um pouco moralista, que focasse apenas em problemas individuais, de como as redes sociais são nocivas, e como "nós" deveríamos passar menos tempo no celular. Mas o documentário tem uma visão muito diferente do que eu esperava. É claro que chegam a conclusão que as redes sociais, da forma como funcionam hoje, são realmente nocivas, mas o problema não é o uso que nós fazemos e sim como as redes foram criadas. Uma visão bem diferente da que costumamos ver por aí, até mesmo parecidas com as falas de nossos pais, "você passa muito tempo nesse celular, menino!". Sim, é verdade que nós passamos muito tempo no celular, mas o problema vai muito além da nossa força de vontade pura e simples de deixar o celular de lado, são máquinas criadas para isso, criadas para consumir sua atenção e seu tempo, te deixando preso nelas, mexendo com nossos circuitos neuronais e sistemas de recompensa, criando um sistema literalmente viciante, que torna muito difícil não ceder a esses estímulos. E isso precisa urgentemente ser discutido! Eu faço parte da última geração que nasceu antes da criação do celular, e ainda não sabemos de que forma nascer conectado vai afetar as gerações futuras. Pelo que o documentário apresenta, não vai ser uma coisa boa. 

Falando um pouco da minha experiência, resolvi assistir o documentário porque venho, há algumas semanas, procurando uma solução pro que eu vou chamar de "o problema do Twitter". Desde que começou a quarentena da COVID-19 (eu ainda estou em isolamento, desde março), meu uso do Twitter aumentou consideravelmente. Eu já usava muito o Twitter antes da Covid, mas o uso passou de "algumas horinhas" (que já eram muitas), para "eu perdi um dia inteiro nisso". Eu costumava passar cerca de 3 horas no Twitter, o que já era algo muito preocupante, e agora passo entre 5 à 7 horas, às vezes 8. Caso pareça pouco (eu duvido que pareça), 8 horas em um dia dá quase o tempo que eu passo acordada, sem realizar alguma atividade (comendo, tomando banho, me arrumando, respondendo mensagem...). As notificações do meu celular estão desligadas desde 2018, meu celular não vibra nem toca, não tem nenhuma luzinha que me faz pegar nele, mas eu não consigo sair do Twitter. Eu coloco um timer de 2 horas e meia para o uso de twitter por dia, o celular bloqueia o aplicativo após esse tempo, mas, em algum momento da minha semana, eu vou aumentar um pouco esse timer porque eu "preciso" (seja porque estou respondendo uma DM ou lendo sobre um assunto interessante) e então as coisas desandam e de repente estou no Twitter por 8 horas. Não sei se outras pessoas tem passado tanto tempo assim em redes sociais, mas pelo que venho conversando nas próprias rede sociais (risos), não sou a única que está perdendo tempo de vida nessas coisas. E eu estou falando de muito tempo de vida.  Como proceder? Você também está passando por algo parecido?

O documentário não me deu a solução que eu esperava. Talvez ela nem exista. O Dilema das Redes nos dão algumas soluções que podem ser aplicadas de forma simples na vida: desligar todas as notificações, excluir o máximo de aplicativos e perfis possíveis, não dar like e não clicar em anúncios, não assistir os vídeos recomendados do YouTube... mas a verdade é que parece muito pouco diante do nosso cenário. Enquanto as redes continuarem sendo projetadas para ganhar nosso tempo e nossa atenção, enquanto não existir nenhuma regulamentação do que uma empresa como o Facebook pode fazer, vamos continuar presos nessa armadilha. Não parece um cenário muito promissor.

Venho pensando em algumas alternativas. Quando eu era criança, e não tínhamos internet nem computador, costumávamos passar nosso tempo jogando videogame. Mas éramos quatro pessoas pra um videogame, e, além das brigas constantes pra decidir quem ia jogar e em qual momento, nosso videogame vivia dando defeito. Ficava ligado o dia todo, durante a semana toda, então é natural que um dispositivo que já não aguentava muita coisa estragasse. Até que meu irmão mais velho trouxe um conjunto de regras que serviram pra diminuir um pouco as brigas, além de aumentar (e muito) a vida útil do nosso console. Algumas dessas regras eram: não podíamos ligar o videogame na hora do almoço, entre 12 às 15h; não podíamos continuar jogando depois de meia noite; quem faltasse aula não podia jogar naquele dia; segunda-feira o videogame não era ligado, não importasse o motivo. Não seguíamos a risca, tenho várias lembranças de matar aula de manhã, em uma segunda-feira, para jogar, mas funcionava a maior parte do tempo, principalmente quando todos nós estávamos em casa (um vigiava o outro, Foucault ficaria orgulhoso). 

Venho pensando em alternativas como essas, como forma de preservar minha própria saúde mental, enquanto o sistema não muda. Talvez, até mesmo pequenas atitudes como ficar uma segunda-feira sem celular (ou sem redes sociais) já sirva para pressionar que as coisas sejam mudadas. Ou estabelecer um horário para ficar sem o celular. Na pior das hipóteses, tenho mais tempo livre pra gastar com outras coisas. Na melhor, minha saúde mental ganha um bônus, assim como outras áreas da minha vida. O importante é resolver esse dilema. 

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2 comentários

  1. Assisti o documentário com certa expectativa, uma vez que vi várias pessoas elogiando, mas acabei me decepcionando. Pode ter sido impressão minha, mas senti que o documentário foi um pouco tendenciosos em apontar de forma repetitiva uma rede social em especial como "vilã", uma vez que hoje basta estar conectado a internet para sofrer com os maléficos apresentados.

    Não tenho Twitter então não posso falar sobre, mas esse ano senti que o Instagram começou a ser um lugar um pouco desagradável de se estar, então reduzi meu tempo online por lá.

    Blog Profano Feminino

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  2. Eu assisti esse documentário e apesar de já ter um pequena ideia de como funciona os algoritmos, fiquei bem impactada com a manipulação das mídias.

    Sai da Minha Lente

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