Diário de Quarentena? #2

sexta-feira, abril 24, 2020

A imagem mostra uma mesa de madeira, cinza, com cinco objetos dispostos em cima dela. A esquerda, duas agendas de capa de couro cinza estão empilhadas uma em cima da outra. Logo acima é possível ver uma pequena bola de elástico. A direita da bola está um vaso de porcelana, com uma suculenta dentro. Abaixo, é possível ver uma lapiseira e um pincel deitados sobre a mesa. Todos os objetos possuem tons de cinza, dando a imagem certo ar melancolico
Imagem de Pamplemuss por Pixabay
Hoje foi um dia particularmente difícil. Fiquei agitada, não consegui me concentrar em nada e passei o dia rolando a timeline do Twitter, comendo doces e me cobrando produtividade. Passei a tarde com minhas calopsitas, que, como se soubessem, estavam muito calmas. Minhas calopsitas normalmente são agitadas, bagunceiras, barulhentas e brincalhonhas. Hoje se contentaram em destruir um pedaço de uma caixa de sapato, comer bastante e receberem carinho no meu ombro. Agradeci por isso. Não estava com muita energia pra gastar com elas. O resto do dia foi o que citei: horas intermináveis no Twitter, comendo doces (fiz uma torta essa semana!) e me cobrando coisas. Antes da quarentena, planejei vários projetos para esse ano. Novos hábitos, nova rotina, dar continuidade a coisas que nem sempre conseguia... Comprei até um planner. Estava conseguindo ler todos os dias, fazer crochê e dar continuidade ao meu projeto de mestrado. Consegui também manter o blog. É claro que a quarentena atrapalhou um pouco meus planos. Não li nenhum livro, minha única tentativa de fazer crochê resultou em dor no pulso, não publiquei nada no meu Instagram e sequer abri o arquivo do meu projeto de mestrado. O planner, é claro, segue vazio. Até tentei continuar usando no início, mas tem ficado cada vez mais difícil encontrar algo pra preencher as páginas. Aos poucos tenho caído na real: não vai dar pra continuar com esses planos, ao menos não como era antes.

Pra mim, essa é uma das partes mais complicadas da quarentena: a aparente normalidade, mas com o peso do medo nos meus ombros. É claro que as coisas não estão "normais". Mas estar há um mês sem sair de casa, sem ter contato com o real, vivendo em uma cidade que pouco mudou sua rotina, traz essa ilusão de normalidade. Há dias em que acordo sem nem mesmo me lembrar do que está acontecendo. Mas basta me levantar e com alguns segundos me lembro de tudo: meu pai na cozinha, sem poder trabalhar, meu sobrinho brincando, sem escola, meus irmãos em casa, sem trabalho, e eu, é claro, sem aulas, por tudo o que está acontecendo. Tenho muito medo do que vem pela frente, junto a isso, uma sensação de impotência enorme, por saber que a única coisa que posso fazer é ficar em casa, e rezar para que outros façam o mesmo, na medida do possível. Tento imaginar como será o futuro, quando isso vai acabar, quem ainda estará aqui para contar a história, e quais impactos isso terá em nossa sociedade, mas é tudo em vão. Não dá pra saber, e eu tento me esforçar para aceitar a incerteza, a insegurança, e o medo do desconhecido. Não dá pra saber, e me agarrar aos planos do passado imaginando que tudo isso é uma coisa temporária e que tudo estará igual no futuro não tem dado muitos frutos. Estou gastando muita energia, me cobrando manter um padrão de normalidade que não existe, e por isso mesmo hoje o dia foi particularmente difícil.

Acredito que é para isso que comecei esse texto, embora não tenha me dado conta no início: estou escrevendo para compreender que as coisas não são mais como antes, para desencanar dos meus planos para 2020, para desapegar do meu planner e aceitar que tudo o que eu posso fazer agora é esperar. Esperar que passe, que dê certo, que as pessoas se mantenham seguras, que responsabilidades sejam assumidas e que, apesar de tudo, consigamos sair dessa, com saúde física e mental. Além disso, tentar manter a esperança, quem sabe ainda consigo usar meu planner, no finalzinho do ano, pra programar os encontros para rever meus amigos? Sinto imensamente a falta deles.

Você também pode gostar

4 comentários

  1. Bom dia :)
    Como está agora?
    Te entendo. Nem tudo ta saindo como planejado. Esta semana teve dia que eu deveria estudar e passei o dia deitado vendo anime kkk
    Não se cobre tanto, ok?

    Beijos e se cuida
    www.rimasdopreto.com

    ResponderExcluir
  2. Oi, Marina bom dia! Eu te entendo perfeitamente, os dias estão bastante difíceis, visto que, a cada dia que passa a sensação que eu tenho é que essa tormenta global desse vírus maldito demorará a cessar, para enfim, voltarmos à normalidade de antes. Entretanto há esperança e é nela que eu tenho me sustentado que dias melhores virão, e este pesadelo horroroso passe em definitivo. Assim, como você, eu tinha alguns planos para serem concretizados ao longo deste ano de 2020, mas que foram quase todos para o ralo, infelizmente. O que me acalenta são as leituras que faço diariamente. Sinto muito em ver que a leitura não está lhe ajudando neste momento, mas pelo menos você está escrevendo, já é de suma importância. Tente meditar um pouco neste momento, pois para mim funciona. Reserve uma hora só para você, não permita distrações externas que venham, porventura lhe atrapalhar. Tenho feito isto e tem me ajudado bastante. Só me resta te desejar força e determinação para superar esta adversidade momentânea, embora pareça que não terminará em poucos dias. Se cuide tá bom. Um forte abraço!
    Att..



    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  3. A nós aconteceu o mesmo, nem todos os dias são produtivos
    Mantenha a calma é sempre pior quando nos irritamos
    Seguimos o blog <3

    Beijinhos :), Damsel.me-Clique Aqui

    ResponderExcluir
  4. Saber que as coisas não voltarão como antes é muita doideira, ao mesmo tempo torço para que não volte como antes, assim teremos uma chance de repensar a maneira que vivemos e o impacto que damos à natureza. Espero que mudemos nossos hábitos e nos tornemos melhores uns para os outros. Por outro lado, meu lado pessimista acredita que vamos piorar, os ricos vão criar mais barreiras e os pobres ficarão na miséria, o mundo consumista vai devorar com mais fome os recursos do planeta...

    ResponderExcluir

Leio tudo com carinho e respondo sempre que posso.

Para dúvidas ou sugestões use a página de contato;

No mais, agradeço o comentário e a visita. Volte sempre! ♥

Arquivo do blog

Publicidade