'Aprenda a confiar no caminho, mesmo que você não o entenda'

terça-feira, setembro 22, 2020

A imagem mostra várias folhas de outono, coloridas, boando em cima de um lago. As cores predominantes são azul, laranja e amarelo, e a imagem parece uma pintura

Eu não tenho certeza, mas acho que a frase do título desse post é uma frase budista. Talvez não seja realmente budista, mas li em algum lugar como se fosse, naquelas imagens motivacionais que a gente encontra no Pinterest, e desde então tem martelado na minha cabeça. "Aprenda a confiar no caminho, mesmo que você não o entenda", que coisa difícil, principalmente se considerarmos a forma como vivemos, e a necessidade constante de termos tudo planejado, arquitetado, nos mínimos detalhes, de forma que a gente apenas siga em frente segundo nossos planos, já sabendo exatamente onde esse plano vai nos levar. Uma pena que a vida não está nem aí pra isso.

Pode parecer bobo, mas fui realmente entender o que "aprenda a confiar no caminho, mesmo que você não o entenda" quer dizer, assim como aplicar na minha vida, fazendo crochê. Comecei a fazer crochê em 2018, e para quem não sabe, no crochê, você pode tanto começar uma peça do zero, fazendo tudo da "sua cabeça" quando seguir uma "receita". Uma receita de crochê nada mais é que um passo-a-passo, um tutorial, ponto por ponto, carreira por carreira, de como fazer determinada peça. Uma receita de um cachecol traz o passo-a-passo de um cachecol, e, na teoria, se você segue uma receita direitinho, no final você vai ter exatamente o cachecol que a receita ensina. Na teoria. Na prática nós somos humanos e às vezes fazemos um ponto a mais, um a menos, pulamos um carreira, colocamos mais ou menos pressão nos pontos ou simplesmente fazemos uma confusão absurda de forma que a peça simplesmente não saia do jeito que era esperado. E tá tudo certo, peças únicas são a beleza das atividades manuais.

E o que isso tem a ver com a frase talvez-budista? Acontece que, por experiência própria na arte de errar no crochê, eu já sabia que nem sempre a peça final saía como o esperado, porque alguma coisa aconteceu no caminho. E eu, insegura, paranoica e morrendo de medo de "perder tempo", antes mesmo de terminar a peça, já desmanchava tudo antecipando que tinha errado e não ia dar certo. Eu não tinha certeza do resultado, não tinha certeza se tinha errado, não sabia como a peça ficaria, e, na primeira sensação de estranheza em relação ao que eu estava fazendo, já desmanchava tudo. Talvez você esteja imaginando por conta própria que eu passava semanas desfazendo e re-fazendo (pela metade) as mesmas peças. E nunca finalizava nenhuma. Não entendia o caminho que estava percorrendo, então voltava pra trás. Até que um dia eu fiquei de saco cheio de (não)fazer crochê e resolvi seguir as receitas até o final, mesmo achando que não ia dar certo, só pra confirmar se não ia dar certo mesmo. Eu não vou dizer que as peças estavam saindo exatamente como eu pensei que sairiam, nem que segui todas as receitas à risca, mas também não posso dizer que não deu certo. Eu finalizei várias peças, de bonecos a capas de almofadas e toalhas de mesa, algumas que podiam ter ficado melhores e outras que percebi que de fato pulei um ponto lá no início do trabalho, mas todas deram certo. Precisei refazer uma ou outra carreira em alguns trabalhos, mas todos terminaram da forma como se propunham terminar. E às vezes, surpreendentemente, até melhor do que elas se propunham. Não entender aonde eu vou chegar não quer dizer que não vou chegar a lugar algum.

Ultimamente, tudo isso que aprendi no crochê (e na vida) tem voltado a tona. Escolhi fazer pesquisa usando um método não muito convencional. Exige flexibilidade. Em meio a uma pandemia então, nem se fala. Eu nem sempre sei onde vou chegar com essa pesquisa. Tenho objetivos traçados, mas nada me garante que vou chegar até eles (ou que vão ser os mesmos no fim do caminho). Às vezes sinto que estou completamente perdida, que não vou chegar a lugar nenhum. Não ajuda estar em um ambiente onde todos tem metas rigorosamente traçadas e parecem segui-las milimetricamente independente do que aconteça até o fim. Bate uma insegurança, parece que eu estou errada. Mas será, Jesus? E aí tem a pandemia, e a rotina, e as pessoas já sabem se vão casar e ter filhos, ou onde vão trabalhar... e eu tento confiar no caminho, tento aprender a confiar no caminho, porque não entender aonde eu vou chegar não quer dizer que eu não vou chegar a lugar algum. Se vai ser o que eu queria, não sei, mas talvez seja até melhor, quem sabe?

Nós (e eu acredito que posso generalizar aqui) temos uma dificuldade imensa de lidar com incertezas. Acho difícil encontrar quem é imune. Então a gente traça planos, estabelece metas, usa um método, volta atrás quando o caminho parece levar para um lugar desconhecido, desmancha o crochê quando acha que ele está esquisito, e acha que isso é suficiente, que o caminho não é confuso (como poderia? ele tá bem detalhadinho aqui, na minha cabeça) e que ele é seguro. Só que não é. É confuso e é incerto e nem sempre a gente entende. O que resta, então? Aprender a confiar no caminho, se permitir confiar no caminho, mesmo que não o entenda.


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1 comentários

  1. Achei linda a analogia que você fez do crochê!
    Eu me sinto assim com a pintura na tela. Tenho a pintura na cabeça, o rascunho, mas o final da pintura é uma surpresa, pode ficar parecida com o que imaginei, ou pode ficar diferente. Trabalhos manuais realmente são assim e eu amo os que ficam meio tortos, sem perfeição.
    Também não sei para onde meu caminho vai me levar, tenho que forçar um pouco pra continuar na estrada. Espero que me leve a uma linda cachoeira kk

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