Querida Alice

segunda-feira, setembro 24, 2018


Querida Alice,

faz tanto tempo que não escrevo para você. Não sei se ainda sei como fazer... Aconteceram muitas coisas, não tive tempo, perdi a vontade. Achei que deveria voltar e escrever para você, mais uma vez.

Primeiro, eu gostaria de explicar a mudança súbita no formato. Do papel real para o virtual. Eu joguei todas as outras cartas fora. Acredito que sobraram apenas algumas. Reler todas aquelas palavras, escritas durante tantos anos, me trazia muita dor. Eu precisei fazer, como uma forma de deixar o passado para trás. Me sinto melhor assim. Esse novo formato traz algumas mudanças: é provável que tenhamos espectadores, alguns que talvez escrevam para você também, outros mais silenciosos. Tenho certeza que você não se importa.

Estou no décimo período da faculdade agora. Quando foi a última vez que lhe escrevi? No oitavo? Início do nono? Não me lembro. Escrever o TCC vem sendo uma experiência estressante, mas não tanto quanto imaginei que seria. Esses anos todos escrevendo para você, lendo e fazendo resenhas, escrevendo meu blog e outras coisas, talvez tenham servido para alguma coisa, algo além de desabafar. O décimo período traz perspectivas assustadoras: o que fazer depois de formatura? Que caminhos seguirão eu e meus amigos? Como enfim viver a prática sem orientações de professores? Sendo bastante sincera, não estou com medo. Penso que eu deveria estar, mas não estou. Olho para trás e vejo o quanto vim caminhando: das inúmeras mudanças de escola, ao início da faculdade, mudança de amigos e de cidade, as várias mudanças de cabelo, opinião e outras coisas... Posso dizer com segurança que nunca tive medo do novo. Não me conhece quem diz que não me arrisco: minha vida tem sido uma série de tiros no escuro, um atrás do outro. Eu sei que não vai ser diferente depois da faculdade. Assim como não foi ao fim do ensino médio. Eu fico feliz que tenha dado certo.

Tem algo que eu preciso lhe contar! Comecei minha terapia! Estava morrendo de medo no início, mas a terapia não é o que parece. Não chega nem perto do que vi e ouvi na faculdade. Atrasava propositalmente dez minutos em todas as sessões, no início, mas hoje, se pudesse, chegaria adiantada. Sinto como se aquele fosse o único lugar onde eu sou por completa. E o único lugar onde tem alguém que vê isso - eu mesma. Minha psicóloga é maravilhosa, mas consigo ver que ali tem um ser humano. E me sinto bem com isso. Aliás, esse é o propósito da Gestalt-terapia: terapeuta e paciente crescem no contato. Minha terapia me conquistou tanto que decidi seguir por esse caminho: quero ser uma Gestalt-terapeuta também :)

Tem alguns detalhes sobre a terapia que pretendo te contar um outro dia, como, por exemplo, o fato que faço terapia sentada no chão, em uma sala quase-vazia, fugindo completamente do padrão sofá/divã que vamos por aí. Foi uma escolha minha, obviamente, minha psicóloga tem uma sala de verdade. Não me lembro dos pormenores que me levaram a pedir para trocar de sala, mas depois que trocamos, nunca mais voltei. Às vezes me esqueço que nem todas as terapias são assim. É estranho, eu percebi na terapia que buscava me encaixar e me enquadrar num "padrão", mas minha terapia desde o princípio fugiu disso, como se algo em mim, lá no fundo, gritasse por uma existência fora da curva. Não foi intencional, principalmente porque só percebi com meses de sessão que eu andava me esticando, me enquadrando, puxando aqui e ali pra caber no mundo - que eu achava que era - dos outros. Me sinto bem dessa forma, sentada no chão, de frente para a psicóloga (que também senta no chão, e desde as primeiras sessões nunca mais veio de salto, porque atrapalha), falando do que me vier a cabeça, sem me preocupar se é assim que se faz ou não uma terapia, se estou fugindo ou não de algo, se eu deveria ou não ocupar o silêncio. É minha terapia, e eu a faço da minha forma. Aliás, existo da minha forma, e nada é mais importante para mim do que isso. 

E o que mais? Acho que preciso falar sobre a dor. Eu ainda a sinto. Aquela dor que tanto escrevi para você, que dói o peito, que sufoca, que puxa e aperta, que queima a alma... eu ainda não descobri o que é, e de onde veio. Tenho medo que nunca vá descobrir, tenho medo que nunca vá embora. Dói muito, ainda. E quase o tempo todo. Tenho aprendido a viver assim mesmo, com ela. Porque não quero esperar para viver quando ela passar. Quero viver aqui e agora. Com o que tenho, do jeito que tenho. Com ou sem ela. Não foi fácil chegar a essa conclusão, nem sempre consegui (e consigo) pensar dessa forma. Mas estou caminhando, um dia de cada vez. E se vale ou não a pena, só vou descobrir no final, quando chegar.

Enfim, me prolonguei muito, como sempre faço. Não consigo mais escrever com tanta frequência, por isso os assuntos se acumulam. Como sempre, agradeço o espaço que tenho durante todos esses anos, e espero poder te escrever de novo, em breve. Até logo!

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6 comentários

  1. Eu sei que você vai conseguir passar por tudo isso, acredito em você.
    E fico feliz que tenha encaixado sua terapia dessa forma, se sentindo livre na sala! Talvez eu tente isso com meu psicólogo também!

    Com amor, ♥ Bruna Morgan

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  2. Eu vi seu tweet sobre sua mãe comendo escondido os salgadinhos hauhaua morri de rir

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  3. Hey, te indiquei pra uma tag: https://www.suspirare.com/2018/10/sunshine-blogger-awards.html

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    1. Obrigada Ana!! Fico muito feliz, vou postar com todo carinho <3

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