Diário de Quarentena #4

segunda-feira, maio 03, 2021

A imagem mostra um relógio na parte esquerda da foto, parcialmente oculto pelo ângulo da foto. A imagem mostra os ponteiros apontando para duas horas

Eu achei que escreveria essa coluna com mais frequência, mas também achei que a "quarentena" duraria duas semanas, então penso que, ao menos em relação ao tempo, estamos quites. Já faz um ano e dois meses que estamos em isolamento — ao menos alguns de nós — e eu sinto que já são mais de dois anos. Sigo firme dentro de casa, com a sensação que somente eu e minha família estamos fazendo isso. Ainda consigo contar nos dedos a quantidade de vezes que saí, mas descobri, ao longo do tempo, que prefiro mesmo é evitar sair de casa. O mundo lá fora parece irreal e estranho, iluminado demais, quente demais e colorido demais, em contraste com minha casa, escura e fria, como sempre foi. Às vezes me pergunto como vai ser depois disso tudo, se é que vai haver um "depois". Eu, que sempre tive dificuldade de conversar com as pessoas, mas acabei me acostumando com o tempo, perdi um pouco esse costume. Conversar por telas não é a mesma coisa, e eu já imagino que vou precisar passar por um processo de readaptação. Pensamentos a longo prazo, na verdade, eu nem mesmo sei se vai existir alguma "normalidade" pra voltar. 

Por aqui, seguimos com a mesma rotina que mencionei em outras publicações dessa série, mas com algumas mudanças: os mercados, lojas e farmácias pararam de fazer entregas, então quem sai para comprar o que precisamos é meu pai, o único que ainda tem paciência suficiente pra seguir as recomendações à risca, dando banho em produto e tomando banho ao chegar em casa. No que se refere a mim, nada de limpar compras, eu "só" uso máscara — e faço mais do que metade da população e o presidente do país. Meu pai também se aposentou e está vacinado, duas doses de Coronavac, uma injeção de esperança. Minha mãe também tomou a primeira e estamos aguardando o dia de tomar a segunda. Eu não acho que vai haver vacina pra nós que somos jovens, então me contento com a vacina para eles. Ao menos estão seguros.

Ocasionalmente vejo pessoas, principalmente nas redes sociais, que são completamente negacionistas. Não acreditam no vírus, não usam máscara, fazem piada com quem se cuida ou perdeu pessoas. Me pergunto como isso pode estar acontecendo, como podem duas realidades completamente distintas existirem, ao menos em narrativa, no mesmo espaço. Fico espantada com a falta de humanidade das pessoas, com o nosso jeito de ser egoísta e a falta de pensamento coletivo, não sei se tem "volta" dessa situação. O que a gente vai fazer com os demônios que encontramos escondidos no porão? Novamente, pensamentos a longo prazo que prefiro evitar.

A imagem mostra um quadrinho, divido em três partes. No primeiro quadrinho é possível ver um fundo escuro, com dois olhinhos brancos, sem pupila, se destacando. Num balão, os dizeres "estávamos no escuro, aí acenderam as luzes...". No segundo quadrinho, uma figura vermelha, meio demônio meio rato, com rabo de seta, olhos brancos sem pupila segura um cajado sobre um fundo branco. No balão ao seu lado, os dizeres "então, nos vimos monstros...". No terceiro quadrinho, a mesma figura do demônio-rato aparece de costas, sobre um fundo cheio de criaturas bizarras e animalescas. Num balão a esquerda, está escrito "e agora?" e outro balão, no canto esquerdo "...voltamos para as sombras ou aceitamos a monstruosidade?"
Uma tirinha do Capirotinho que vem me assombrando com uma frequência absurda

Em relação a atividades pandêmicas, já não sei mais como me distrair. Já fiz fermento natural, e descobri que é uma atividade insuportável de chata, já aprendi a bordar, embora não tenha terminado meu primeiro bordado porque quis dar um passo maior que a perna, já comecei a aprender uma nova língua, e dei uma pausa no aprendizado, já assisti várias séries e filmes, já escrevi blogs e um diário, já fiz crochê e outros artesanatos, já montei um quebra-cabeças de 1000 peças, e logo vou montar outros, já fiz cursos online, cozinhei, fiz doces, continuei meus estudos, já me deprimi e renovei minhas esperanças, já me deprimi de novo e não acho que vou voltar a ter esperanças dessa vez, já ri e chorei, e no momento estou fazendo vídeos pro Youtube, de um jogo específico que só eu jogo, e eu espero que essa situação não dure mais muitos anos, porque não sei mais o que é que eu vou inventar pra me distrair a partir daqui. 

Está sendo difícil manter as esperanças, e eu me pergunto quanto tempo nossa população ainda aguenta essa loucura. Quanto tempo até todos desistirem e deixarem de lado o distanciamento, o uso de máscaras a preocupação com a própria vida e com as dos outros — algo que já está raro nos dias de hoje. Espero, do fundo do coração, ter coisas melhores pra escrever na próxima, mas sinceramente, da forma como estamos hoje, acho difícil.

Se você gostou e quer ver mais posts da série Diário de Quarentena, essas são as publicações que já fiz com esse tema:
Diário de Quarentena #1

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4 comentários

  1. Eu também prefiro ficar em casa, primeiro por conta do risco e segundo porque ODEIO andar de máscara, aí entre sair de casa e ter que usar, prefiro ficar em casa sem máscara :P mas infelizmente to tendo que resolver 93884 coisas, porque meu pai faleceu em setembro do ano passado (não foi covid, foi infarto) e muitas coisas ainda ficaram pra resolver como mudar titularidade das contas e etc etc. Como assim pararam de fazer entregas aí? Que absurdo! Deveriam continuar, mal sabem que isso é ganho pra eles né? To feliz que hoje minha vó vacinou a segunda dose e minha mãe também já tomou as duas doses. Agora é torcer pra chegar logo a minha vez e a da minha irmã também. A cada sintoma que tenho de sinusite, ansiedade ou estresse, eu penso que é covid, isso não é normal, gente! Você me lembrou que tenho Duolingo pra terminar, tava muito bom aprender inglês e espanhol por lá. Assistir séries eu nunca parei, porque ainda me faz bem, haha! Também não sei mais o que inventar para me distrair, estamos juntas nessa, hahahaha!
    Beijos!

    www.likeparadise.com.br

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  2. Oizinho! No início da quarentena, também tentei fazer uma série de posts desse tipo, mas acabei largando tudo porque tava passando por uns problemas bem mais pesados que a quarentena em si. Acho que pra mim o último ano em casa foi bom, mas agora já tá enchendo o saco. E olha que não fiz metade das coisas que tu fez!

    Nossa, nunca ouvi falar nesse jogo que você fez o canal UAHSDUIAHSD Me parece bem fofinho, apesar de não ser do tipo que eu gosto. Não consigo prestar atenção nas coisas e acabo me ferrando nesse tipo de jogo, risos.

    Olha, sobre aprender línguas, eu que tenho facilidade nisso tô me batendo pra conseguir algo nessa quarentena também. Ô diacho, cérebro parece que não presta pra nada mais. :(

    Beijinhos!

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  3. Oi, quanto tempo naonpassei por aqui, a minha vida tá corrida menina, você ter que lidar com criança dentro de casa nessa pandemia não é fácil. Olha eu vejo que aqui está do mesmo jeito, muita gente não acredita na doença vive ao Deus dará, acham que tudo é invenção e que ninguém deveria se esconder tanto, eu tenho tentado não surtar por causa disso, tem sido dias difíceis, meu filho tá na época de ir pra creche, mas até agora não tive coragem, e não sei quando vou ter, fico apreensiva pois alguns tem cuidado outros não, e nisso aí você se perde, já vi gente achando que era status está com a doença um grande e total absurdo, não sei qual O propósito dessas pessoas, pode ser que elas queiram que todo mundo morra, porque a falta de responsabilidade é grande. Sobre aprender crochê gostei haha, eu sei um pouco e pretendo voltar a praticar, tenho visto bastante séries também, além de ter visto muitos filmes, alguns bem ruins que jamais indicaria haha, nunca conseguir bordar, parece que é uma arte que nunca vou aprender haha, mas de resto já tentei tudo. Beijos flor!

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  4. Oi Marina!
    Não apareço aqui faz um bom tempo, né? Estou meio avoada esses últimos dois meses e me perdi totalmente nas visitas lá no Limerence, mas estou de volta!
    Primeiramente, eu queria agradecer a indicação da sua tag! Eu adorei ela e vou responder com certeza, pode deixar que logo vou voltar aqui com o link.

    Agora, sobre seu diário
    vou te admitir que eu queria ter conseguido me manter em isolamento, mas por conta do meu trabalho eu consegui fazer isso por pouco tempo :( eu sinto falta daquela normalidade de antes e ao mesmo tempo também tenho certeza que não vai ter como voltar pra ela.

    Fico muito feliz que seus pais já tenham tomado a vacina! Apenas meu pai conseguiu tomar essa semana a primeira dose, mas já me deu um grande alívio, pelo menos ele vai estar mais protegido.
    Nossa, essa tirinha acho que vai acabar me assombrando um pouco também, ainda mais eu que vejo até mesmo dentro da minha própria família, os negacionistas que não tem um pingo de empatia com quem vem sofrendo tanto, não está fácil.

    Eu espero que você esteja bem, Marina! Tenho fé que não vai durar mais que esse ano essa pandemia - assim espero de todo meu coração - mas, nunca se sabe o que pode acontecer ainda mais vivendo aqui no Brasil. Espero que consiga recuperar suas esperanças ♥

    Beeeeeeeeijos, Neko.

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