A Internet virou um grande shopping
domingo, fevereiro 06, 2022Já tem um bom tempo que ando refletindo, pensando e matutando sobre o Instagram, e pensando tanto sobre isso que comecei a procurar entender porque o Instagram me incomoda tanto. Essa rede já foi uma das minhas favoritas, por mais que seja estranho ter uma rede social favorita, e eu vivo querendo voltar pr'aqueles tempos. Cheguei até mesmo a colocar como meta ano passado voltar com o Insta do blog. A verdade é que a rede social que eu gostava já não existe mais, e tenho dificuldade de aceitar isso.
Eu gostava do Instagram por ser uma rede de contato. Mais que fotos bonitas, a gente conseguia se aproximar das pessoas. Ver a rotina delas, o que faziam, as comidas que comiam e os lugares que frequentavam, até mesmo as reflexões — os famosos textão — que faziam. Eu lembro que comecei a usar logo que o Instagram saiu pra Android, e naquela época eram quase como extensões dos blogs. Uma espécie de diário virtual com fotos, pelo menos na minha bolha. A verdade é que o próprio conceito de bolha não existia na época, porque não existia toda essa preocupação com algoritmos, com conteúdo milimetricamente selecionado e a gente via as publicações de todo mundo, de acordo com o horário em que postavam. Quem lembra disso, do melhor horário pra se postar nas redes? Hoje isso não existe, porque o algoritmo seleciona o que é melhor pra você, independente do horário que foi postado.
Já tem um tempo que o Instagram — e outras redes sociais no geral — me incomodam. Não sei exatamente porquê. Comecei a me interessar pelo assunto quando assisti O Dilema das Redes, mas o incômodo era de antes. Já não estava mais usando o Instagram na época, e o documentário só me fez ter certeza que tomei a decisão correta. Também li Dez argumentos para deletar suas redes sociais e fui me aprofundando no assunto. Meus conhecimentos limitados de informática não me permitem prever o perigo no funcionamento disso tudo, mas tenho a sensação gritante de que algo está errado. Mas não sei dizer o quê.
Eu já tinha abandonado meu perfil pessoal no Instagram há um tempo, e entro lá vez ou outra pra responder uma ou outra mensagem. Deixo o perfil ativo para passar a @ pras pessoas quando pedem uma rede social pra seguir (a maioria acha estranho demais eu não ter Facebook, e não ter rede social atualmente traz desconfiança. Nem preciso dizer que jamais passaria meu Twitter). Voltei a usar o Instagram um pouquinho por causa do meu perfil de crochê. Às vezes entro lá e rolo a timeline, vejo algumas postagens. Costumo entrar também para postar algo e sair correndo. Não consigo ficar mais que alguns minutos. Ainda não consegui identificar porquê, mas rolar a timeline e ver as postagens me traz as piores sensações possíveis. E eu tenho a impressão que é proposital, foi feito para que eu me sinta assim.
É estranho e ao mesmo tempo curioso. Fico procurando em mim motivos para me sentir dessa forma. No meu perfil de crochê (em que eu só sigo páginas voltadas a falar de crochê e artesanato em geral), sempre sinto que estou ficando para trás. Que não sei o suficiente, que preciso aprender mais, me dedicar mais, e que faço pouco crochê comparado a outras pessoas. Parece que todo mundo está produzindo incessantemente e só eu faço uma ou duas peças por semana. Parece que todos tem a técnica ou o segredo infalível e só eu uso métodos "precários". O que é curioso é que sinto a mesma coisa no meu perfil pessoal. E também no perfil que criei pras minhas calopsitas. Não relacionado a crochê, é claro, mas relacionado a qualquer outras coisas. Parei de usar o perfil das minhas psitas pelo mesmo motivo que me levou a parar de usar o perfil pessoal: eu me sentia péssima. Me sentia uma péssima tutora, insuficiente, que não sabia, que não me dedicava, tudo aquilo que disse ali atrás, mas aplicado à ter um pet e outras áreas da minha vida.
E é aí que começo a pensar que é proposital, ou que talvez eu esteja ficando maluca e vendo conspiração em tudo: a cada três posts que vejo me aparece um anúncio. Um anúncio com um curso com o segredo do crochê, um anúncio com um curso de vendas, um anúncio de como conseguir clientes para a clínica de psicologia, um anúncio de como proporcionar um ambiente perfeito para seu pet, um anúncio de realização pessoal, um pedido de assinatura da newsletter, de clicar no link da bio, de comprar um produto (geralmente um e-book *risos*), de assistir um vídeo, de se inscrever num canal... a internet virou um grande shopping. Tudo é feito pra vender, pra clicar, pra atrair sua atenção, pra te fazer agir de uma determinada forma, ainda que tenha que te detonar no caminho.
E o foda é que a gente é sugado pra essa lógica. Todos os meus amigos tem um perfil profissional. Um perfil voltado para venda ou conseguir clientes. Todos lutam contra o algoritmo e ficam praticamente escravos da rede, que te jogam no ostracismo se você não mantém uma frequência de posts. Ninguém sai beneficiado, a não ser os donos. Nós, clientes, porque não aguentamos mais tantos perfis de venda (me desculpem amigos, mas eu silencio a maioria, não dá), e quem vende porque, veja bem, alimentar um Instagram é quase como um segundo trabalho. Gasta muito tempo e energia e quase não tem retorno, mas isso é assunto pra outro post.
A questão é que a internet como está agora tem ficado insuportável. Sei que alguns vão dizer "é só não usar" e em minha defesa é exatamente isso que tenho feito (vê como as coisas estão? A gente precisa se justificar pra gente imaginária). Tenho me voltado a esse blog, a ler newsletter que não tentam te vender um curso a cada três linhas e ao blog de outras pessoas. Ainda uso o Twitter porque meu aplicativo até então estava desatualizado desde 2019, com um monte de funções (tipo a de mostrar "conteúdo sugerido") faltando, e ainda dava pra usar. Agora que atualizou e já não mostra mais as pessoas que sigo, não sei mais. Pra gente que morou na internet a vida inteira e tinha esses espaços quase como segunda casa é difícil de aceitar, mas parece que está chegando o momento de nos voltamos cada vez mais a "vida real" pra escapar daqui. Tenho esperanças que a gente consiga reverter e tornar esse espaço mais "livre" de novo. Entretanto, da forma como as coisas estão, e diante de tantos problemas que temos que enfrentar, me pergunto se vale a pena o esforço. Não parece muito drama, pra algo praticamente supérfluo?
4 comentários
que reflexão legal, Mari! é um sentimento confuso que venho mantendo em mim também e é sempre muito bom ver essa discussão se acender pelos cantos. ontem vi, mais uma vez, pessoas reclamando das que são "low profile" e como isso gera uma real desconfiança. particularmente, acho que seja uma discussão muito séria, já que redes sociais se tornaram mais um desgaste do que um local de escape. não estar nela te torna menos confiável pras outras pessoas? que coisa... eu criei o blog pra isso mesmo, pra fugir, um lugar onde eu pudesse ser livre das redes sociais, mas que não deixasse de escrever e interagir com as pessoas. também li esse livro que você leu e o documentário que você citou! acho que as redes se tornaram algo muito cruel e a cada dia que passa tem sido mais fácil fazer essa escolha de não estar nelas. obrigada por compartilhar esses pensamentos <3.
ResponderExcluirRealmente em algo que acredito. Alguns ficaram escravos só pra poder continuar vendendo mais e tentar se tornar algo que não é. É muito difícil dizer que ze vive nesse meio, pois no início, é mesmo como um trabalho escravo. Mas é nem entender seu ponto de vista.
ResponderExcluirSei como você se sente. Larguei o Instagram em 2019/2020 por me fazer mal, tentei voltar no ano passado só pra ver o que tava ~rolando, não aguentei e larguei de novo.
ResponderExcluirAos poucos tô saindo de todas as redes sociais, agora só uso o Skoob e tenho o meu blog, mas nesse ano até eles estão meio abandonados porque tô me dando um tempo offline.
Acho que o que as redes sociais tem me feito sentir é inadequação, sabe?
Adoro a internet, agora tô usando o meu tempo nela pra ler sobre assuntos que eu gosto, mas até newsletter que tem que pagar eu já achei, então não tá fácil heuhe
Te entendo!
ResponderExcluirO instagram coloca certa preção nos usuários referente as questões de algoritmo, principalmente para quem é criador de conteúdo digital.
É muito louco isso, mas é a verdade.
Eu uso o instagram como uma extensão do conteúdo que trago para o blog, mas estou me desestimulando a ficar pilhada com essa história de algoritmos e seguidores. Somos todos pessoas e não só números.
Busco entrar no instagram só quando tenho postagens nele a fazer. Do contrário estou parando de ficar só rolando feed.
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