Minha experiência com O Caminho do Artista - Parte 1

quinta-feira, fevereiro 17, 2022

A foto mostra um lençol, com vários objetos em cima. Entre eles uma caneca com café, um óculos, um livro e o livro do post O caminho do artista

Depois de encontrar muitas menções a esse livro na internet, todas falando muito bem dele, resolvi interpretar essas menções como um sinal e dar uma chance de leitura para O Caminho do Artista (seria um sinal ou trabalho do algoritmo? Eis a questão).

O que é O Caminho do Artista?

Para quem não conhece, O Caminho do Artista, escrito por Julia Cameron, é um livro-guia cuja proposta se baseia em liberar artistas bloqueados, através de uma série de exercícios. Artistas, escritores, poetas, desenhistas, artesãos, músicos, atrizes, O Caminho do Artista promete que qualquer artista pode se beneficiar de seus exercícios (ou seu "caminho", com o perdão do trocadilho) e se livrar de um bloqueio criativo.

Inspirado nos programas de recuperação como os Alcoólicos Anônimos, o Caminho então se baseia em uma série de exercícios, práticas e reflexões, que levam 12 semanas, do início a sua conclusão. As semanas são contabilizadas de domingo a domingo, e a cada semana temos determinadas reflexões e tarefas para liberar nosso "artista bloqueado". Além desses dois, a autora frisa também duas práticas  essenciais para liberar o bloqueio criativo, que devem ser feitas à parte, para além das tarefas semanais. São elas:

  • As páginas matinais: que consiste em escrever todos os dias, pela manhã, três páginas de um caderno, à mão. A ideia é apenas escrever três páginas à mão, sem se preocupar com o que está escrito, com a beleza do texto, se está coerente, se tem algo importante sendo escrito, etc. Essas páginas, que servem para liberar o fluxo de consciência, não devem nunca ser lidas por outras pessoas.
  • O Encontro Semanal com o Artista: consiste em um encontro que deve ser feito todas as semanas, pelo menos uma vez, com seu "artista interior". Não existem regras pré-definidas, a ideia é que se leve seu artista (você) para "passear" (não literalmente, mas acho que você entendeu a proposta), reservando um tempo para si e para se dedicar a sua arte, sem pressões e sem cobranças, um tempo para fluir e se permitir experimentar e viver como um artista.

Além desses dois exercícios, algumas crenças e princípios são fundamentais, sendo que vou listar aqui apenas um, que é a ideia de que você deve, ao menos enquanto realiza as práticas, acreditar em um Ser Superior (ou Deus, ou o Universo, ou seja lá como você queira chamar), e que esse Ser Superior é fonte de criatividade infinita, de onde vem a inspiração para todos os artistas. Como eu li no Instagram outro dia: filha do criador, criativa é! A regra vale mesmo para quem é ateu ou agnóstico, sendo que essa crença deve ser tratada como parte dos exercícios.

Minha Experiência - Primeiras 6 Semanas

Vamos ao que interessa: eu estou, no momento, na oitava semana, caminhando para a nona, e resolvi escrever esse post para contar da minha experiências nas primeiras seis semanas do livro. Isso porque eu sei que o post vai ficar imenso e ninguém lê nada longo hoje em dia então vou dividir em duas partes (divididas em subpartes, pra facilitar).

A primeira coisa que preciso dizer é que sou bem cética. Muito mesmo, principalmente com autoajuda e com esses papos de "confiar no universo", etc. e tal. Mas resolvi que aceitaria a proposta e tentaria não questionar ou olhar com ceticismo para o que eu estava lendo. Mantive uma postura aberta, e embora cética com autoajuda, me surpreendi positivamente até aqui. 

Embora pareça autoajuda furada em um primeiro momento, a autora não tirou suas ideias do nada. Reconheci aqui e ali algumas ideias de leituras Zen (do Zen Budismo), algumas coisas de Psicologia e até mesmo exercícios e práticas que descobri serem comuns em quem trabalha com design e ilustração. Não a toa tive a sensação de estar em terapia em vários momentos ao longo dessas 6 semanas. Por isso mesmo já adianto que não é um livro tranquilo e que pode trazer várias questões, algumas delas difíceis de lidar. Não digo para fazer medo e assustar quem for ler, apenas como um aviso que não é tão bobo quanto parece. A própria autora reforça isso no início, mas é importante ressaltar. 

Apesar de alguns conflitos e questões internas, também me senti bem em vários momentos. Me senti passando por um processo de transformação, de renovação, deixando velhos hábitos para traz e me abrindo para coisas novas, coisas boas. Repensei muitos hábitos meus, principalmente hábitos consumistas, e me vi questionando inseguranças, receios e medos. Em um desses questionamentos, escrevi o post "você não precisa de muito para começar a fazer crochê" para a Fios de Poesia (meu blog de crochê *risos*) onde falo justamente da insegurança de tentar algo novo. Me fez bem. Também escrevi um desabafo aqui no blog, que em partes surgiu enquanto eu escrevia as páginas matinais. Não acho que seja uma fórmula milagrosa ou "O guia" para liberar a criatividade (como muitos vendem por aí), mas é uma excelente forma de contato com si mesmo e com seus processos. E todo contato que se tem com si mesmo vai ter sim um efeito de transformação, independente dos objetivos. E nisso, o livro e suas reflexões não falham.

Sobre as tarefas, exercícios e páginas matinais

Sobre os exercícios e as tarefas, não segui à risca. Fiz as tarefas que deu, do jeito que deu, e não consegui escrever todos os dias as páginas matinais (meu recorde foi 6 dias em uma semana, ainda não completei todos os 7). O encontro com o artista fiz menos ainda, me limitei a assistir filme em várias semanas e foi o que deu pra fazer. Tive dificuldade com os encontros com o artista por não saber, achei vago demais a proposta e às vezes só lembrava que tinha que ter feito já no fim de semana. Valeu a pena os que tive, mas senti que faltou esforço da minha parte.

Já com as páginas, tive dificuldade no início, principalmente devido a falta de prática em escrever à mão. Meu pulso doía com três linhas de escrita e era um sacrifício chegar até o final. Várias vezes escrevi uma página só e foi o que deu. Além disso, fiquei na dúvida se usava um caderno A4 ou A5, e acabei usando um caderno A4, o que tornava as páginas muito mais cansativas. Na internet descobri que as pessoas normalmente usam caderno tipo moleskine, no tamanho A5, o que poupa em dobro o trabalho de escrever (três páginas A4 são seis páginas A5). 

Apesar do esforço, tive um resultado muito positivo com as páginas matinais. Foi interessante para mim pois consegui repensar várias questões na minha vida, quem sou, o que estou fazendo, onde estou e o que quero pra mim. Não pensei em escrever exatamente sobre isso mas foram coisas que surgiram enquanto escrevia. Os exercícios também me ajudaram a perceber muitas coisas que gosto e não tinha dado conta, e também muitas coisas que faço por automatismo. Não consegui fazer todos eles, fiz o que era possível (principalmente com exercícios que pedem para sair de casa), e acredito que uma pessoa que leve o caminho à risca e/ou faça em grupo vai tirar mais benefício do livro como um todo. 

O que espero daqui pra frente

Falando do que de fato mudou na minha vida, eu ainda não vi um resultado prático. E aqui incluo também as duas últimas semanas, a 7º e a 8º. O que eu quero dizer é que ainda não produzi nada grandioso, nada memorável, apenas fiz pequenos pedacinhos de coisas aqui e ali. Não digo que não são importantes, apenas que eu não consegui dar início a nenhum projeto criativo de longo prazo e eu não sei se isso vai acontecer. Em outras palavras, eu ainda me sinto bloqueada. 

Ainda tenho algumas semanas pela frente e essas últimas semanas foram difíceis. Meu caderno acabou as páginas (se eu tivesse seguido à risca teria escrito 126 páginas, fora os exercícios), ainda não consegui comprar um novo e estou prolongando as semanas, fazendo uma semana do livro em duas na vida real. Isso porque minha vida ficou muito confusa, tenho ficado um pouco deprimida (devido a outras questões não relacionadas ao livro da Julia Cameron), e quando me dou conta já passou uma semana e eu não fiz nada. Assim, tenho dado mais uma chance a semana que não fiz e faço tudo na semana seguinte. Estou com esperanças que esse post me dê um gás para me conectar com o Caminho do Artista de novo.

Em resumo, as seis primeiras semanas do caminho foram muito produtivas. Consegui rever muita coisa na minha vida e me reconectar com coisas que tinha perdido. Tive gás para escrever alguns posts, aqui no blog e na Fios, fazer muito crochê e alguns desenhos, que é um hábito que quero muito retomar. Fiquei quase 5 anos sem desenhar e sinto muita falta. Ainda me sinto um pouco frustrada de não ter resultados grandiosos mas entendo que fui eu quem colocou expectativas altas demais (não que o livro não induza, mas...). Ainda assim, o balanço tem sido positivo. Na parte 2 conto como foi as últimas 6 semanas do projeto e o resultado final. Embora não queira criar expectativas, espero ter algum resultado grandioso para contar até lá. Até mais!

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3 comentários

  1. Espero que consiga concluir com sucesso o livro e seus exercícios. É bom ter a mente aberta para entender as coisas e aproveitar ao máximo o que é passado. Eu gostei e achei interessante este livro, quem sabe um dia consigo ler.

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  2. Olá! ~~
    Adorei ler sua experiência com o livro! Achei muito interessante e fiquei curiosa em dar uma olhada sobre quais são os tópicos abordados, e achei interessante também a ideia de escrever 3 páginas por dia, mas eu acho que nunca conseguiria escrever 3 páginas A4, é muita coisa! Meu diário é A5, então eu escrevo pouquinho quando bate aquela vontade.
    Até mais!

    gold gom 곰

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  3. Oi Mari,
    Eu não conhecia esse livro, mas amei a proposta dele, pois me considero uma artista/artesã, por mais que eu não seja profissional nisso, haha. É legal que não é apenas um livro para ler, mas sim para "praticar". Também sou cética em relação a alguns livros de autoajuda, principalmente aqueles que parecem se tratar de algo mágico ou positivo demais, mas há outros que são muito bons e dependem de quem o lê pra dar certo, é o caso do livro Roube Como Um Artista, por exemplo.
    Acredito que por mais que você não tenha feito todos os exercícios a risca, eles serviram como aprendizado também, de que nem tudo funciona pra todo mundo e você não precisa seguir todas as regras do "Caminho" pra ser bem sucedida em pequenos projetos. Me parece que o que você fez já foi o suficiente, tente ser compreensiva consigo mesma, pequenos atos já são um grande avanço pra quem se sente criativamente bloqueado.
    Fico aqui à espera da parte dois.
    Beijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥

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