(Re)Leitura: A sombra do vento - Carlos Ruiz Zafón
segunda-feira, outubro 23, 2017Comecei a reler A sombra do vento há algumas semanas atrás, depois de anos em que fiz a primeira leitura. Zafón era (e ainda é) um dos meus autores favoritos, e a leitura dos livros dele sempre foram muito especiais para mim. Tive medo de que, se relesse A sombra do vento agora, depois de tanto tempo, teria uma visão diferente do livro, e acabaria não gostando tanto quanto gostei da primeira vez. Resolvi folhear o livro por um momento, e sem perceber, já tinha passado da metade.
Minha intenção quando tirei A sombra do vento da estante, era de emprestá-lo. Quem diria que, depois de tanto tempo, eu emprestaria meus livros. Lembro que na época isso era impensável, o mesmo para trocar ou doa-los. Aquela frase do Zafón, escrita em A sombra do vento mesmo, sobre os livros se renovarem ao trocarem de mãos, era completamente ignorada por mim. As coisas mudam.
Apesar de ser uma releitura, tive a sensação de ler o livro pela primeira vez. Me lembrava dos personagens e do pano de fundo, mas não de como a história terminava ou do que acontecia. Esqueço das coisas com facilidade. Me lembrava tão pouco da história que, quando li, sem querer, a grande reviravolta do livro (folheei as páginas), fiquei completamente revoltada! Minha surpresa e indignação foi totalmente desproporcional a reação de alguém que está lendo um livro de novo. Pra ser sincera, não me lembro nem dos detalhes de O Jogo do Anjo, outro livro do autor que eu reli mais de três vezes, em todos esses anos.
A sombra do quê? Que livro é esse?
Pra quem nunca ouviu falar em A sombra do vento, o romance gira em torno da história de Daniel Sempere, um garoto que um dia encontra um livro escrito por um tal de Julián Carax, cujo título é "A sombra do vento". Daniel fica completamente fascinado pelo autor, e quando resolve procurar outros livros dele, descobre que alguém se dedica a queimar todas as suas obras, e que o exemplar que ele possui pode ser o último que resta. Intrigado, Daniel começa a tentar resgatar a história de Julián e descobrir o mistério por trás de suas obras queimadas, ao mesmo tempo em que vai construindo sua própria história, que se torna inseparável da história que está resgatando. A sombra do vento (do Zafón, e não do Julián), faz parte de uma série chamada O cemitério dos livros esquecidos, e atualmente tem quatro volumes (o quarto foi lançado agora, em setembro): O Jogo do Anjo, A Sombra do Vento, O Prisioneiro do Céu e O Labirinto dos Espíritos. Apesar de serem uma série e seguirem uma ordem cronológica, os livros podem ser lidos em qualquer ordem sem prejudicar o entendimento do todo.
Reli A Sombra do Vento, e aí?
A primeira coisa que notei com minha releitura é que a história do Daniel parece ser uma repetição da história do Julián. O que foi uma coincidência engraçada, porque eu me sinto como se estivesse vivendo uma repetição da minha situação de cinco anos atrás, quando li o livro pela primeira vez. A segunda coisa que notei foi que todos os personagens, sem exceção, estão (desculpem a palavra) totalmente fodidos. Não só estão na pior situação possível, como acabam também arrastando os outros pra baixo. Usando uma palavra do próprio Zafón, todos os personagens são malditos, e não é a toa que na série, Barcelona é uma cidade amaldiçoada.
Tinha simpatizado com o Julián na primeira leitura, mas dessa vez simpatizei com Miquel. [CUIDADO! SPOILER - PASSE O MOUSE PRA LER]
Por que? Porque o Miquel foi o único personagem inteligente o suficiente para entender toda a situação, desde o princípio; viveu à sombra do Julián o livro todo; fez de tudo por uma mulher que não sentia nada por ele; perdeu todo o dinheiro pagando por livros que iam direto para um depósito, tudo por uma promessa... para no final, morrer doente, se sacrificando por uma pessoa que jogou o sacrifício dele no lixo.
[/FIM DO SPOILER]. Miquel teve o final mais ingrato de todos, apesar da personalidade forte e os diálogos cativantes, e acho que resume bem o que é "viver" como um personagem do Zafón.
Me senti solitária enquanto lia. Não sei se foi pela solidão dos personagens, ou pelo tom melancólico que a história é narrada. Ou talvez eu me sinta como um personagem do Zafón, e rolou uma identificação durante a leitura. Só sei dizer que cada capítulo me deixava com um sentimento de vazio, e uma vontade enorme de sentar em um lugar tranquilo e apenas observar o tempo passar. Ao mesmo tempo em que eu sentia que o livro não me despertava nada — nenhuma ideia concreta para pensar —, sentia que ele mexia com tudo. Não é a toa que todo mundo que lê recomenda. Não só os personagens e a trama são cativantes, como o autor tem uma forma poética de escrever, que te prende até o final. Contar histórias é uma arte que Zafón domina muito bem. Fiquei feliz por fazer uma releitura depois de tanto tempo, e ainda sentir que é uma boa história, como da primeira vez. Pretendo começar a releitura de O prisioneiro do céu, pra me preparar para a leitura d'O Labirinto dos Espíritos, que foi lançado agora.
8 comentários
Oi Mari, como vai? Gostei do livro, eu sou caçadora e acumuladora de livros, não gosto de ler pela internet então, adoro posts de resenhas. Quando você foi tirar as fotos -que ficaram super combinando com a história do livro, o cheirinho dos fósforos queimados... qual a sensação? pq eu adoro esse cheeeeiro. Também dei uma re-lida em alguns livros meus, mas só farei as resenhas deles quando tiver tempo :( E ah, esse livro, mesmo tendo esse final, pareceu tão interessante e desperta curiosidade sobre se ele vai conseguir desvendar tudo...
ResponderExcluirHarmonizar, beijos.
Eu também amo cheiro de fósforos queimados!! A sensação foi de realmente trazer vida a história do livro, sabe? Foi muito bom! ♥♥
ExcluirLançou a continuação tem alguns meses, você viu? Tô doida pra ler!
Acho que já conhecia algumas histórias do Zafón por recomendações... Achei a história bem interessante, vou procurar esse livro e dar uma chance.
ResponderExcluirAdorei sua resenha e, identifiquei-me com sua mudança em relação à troca e ao empréstimo de livros. Costumava nem tirar os meus da estante, hoje já estou pensando em doar alguns e passar pra frente outros.
Beijos <3
Na época que estavam lançando os livros dele foi uma febre! Eu conheci os livros dele sem querer, pelo skoob, quando joguei meu nome na barra de pesquisa (ele escreveu um livro que chama Marina).
ExcluirEsse ano troquei alguns livros no skoob e doei vários. Não tenho mais tanto espaço nem tempo pra cuidar dos meus livros como cuidava antes. Prefiro mesmo ver eles trocando de mãos e sendo lidos por outras pessoas.
Só li A Sombra do Vento, tenho o jogo do anjo, mas ainda não li. Foi uma das melhores leituras que já tive!!
ResponderExcluirCom amor, ♥ Bruna Morgan ♥
Eu aaaaaaamo O jogo do Anjo!! Me identifico demais com o David, me vejo no futuro comprando uma casa que ninguém mais quer e ir viver reclusa escrevendo hahahha
ExcluirNo final da sua resenha eu me lembrei de uma das minhas quotes favoritas de A Sombra do Vento:
ResponderExcluir"Falei-lhe como, até aquele instante, não havia compreendido que aquela era uma história de pessoas solitárias, de ausência e de perda, e que, por esse mesmo motivo, havia me refugiado nela até confundi-la com a minha própria vida, como quem escapa pelas páginas de um romance porque aqueles que precisam amar são apenas sombras que moram na alma de um estranho."
Zafón é maravilhoso né? Li esse livro a mais de dez anos e continuo relendo sem parar. Tanto esse quanto O Jogo do Anjo e Marina, meus outros títulos favoritos.
Agora com sua resenha quero ler tudo de novo, de novo! haha
Beijos!
www.jadeamorim.com.br
Siiiiim! Ele descreveu o livro perfeitamente! É uma história sobre pessoas solitárias e perdas, e eu fiz o mesmo que o Daniel enquanto estava lendo hahahah'
ExcluirMarina eu já esqueci a história toda. Foi o primeiro dele que eu li, lembro de tão pouco que não tenho certeza se entendi a história direito. Os detalhes que eu lembro não fazem sentido nenhum hhaha
Leio tudo com carinho e respondo sempre que posso.
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