Altas doses de amargura pra finalizar o mês de Julho
domingo, julho 31, 2022
AVISO: Esse post contém altas doses de amargura, de desespero e desesperança. Talvez não seja recomendado você ler se estiver passando por um processo depressivo. Leia com cautela, e se estiver te fazendo mal, feche o post.
Sei que as coisas estão desandando na minha vida quando eu começo a sentir saudades de quem eu já fui. Ao contrário do popular, em que se olha pra trás e percebe o quanto éramos ingênuos e imaturos, eu sempre olho pra trás e sinto que emburreci ao longo dos anos. Não estou falando de burrice em um sentido acadêmico ou de inteligência (embora no momento eu pense que se trata disso também), mas no sentido em que eu parecia ter algum tipo de sabedoria e que estou sempre a perdendo o ao longo dos anos.
Cada ano que passa eu perco um pouco as esperanças, o otimismo e a alegria, e me torno mais ranzinza, mais cínica, mais niilista e mais fatalista. "As coisas são assim mesmo e nunca vão mudar" era uma frase que eu odiava nos meus ~tempos de juventude~. Hoje sou eu quem fala isso. Não sei o que aconteceu ao longo do caminho, se foram as inúmeras decepções com tudo, se foi a pandemia, se foi o governo Bolsonaro, se foi ter percebido que grande parte da população é fascista e preconceituosa, se foi a falta de emprego ou se foi voltar sempre aos mesmos ciclos de sofrimento que não consigo escapar, mas sinto que perdi essa parte de mim que acreditava em boas mudanças (ênfase no "boas", porque acredito que tudo pode mudar pra pior), e não sei como pegar de volta. Nem mesmo sei se quero pegar de volta. De que adianta ter esperança se ela nunca se concretiza? A esperança só serve pra torturar a gente com mais decepções.
Acho que a culpa é do mês de julho. Julho é esse mês cruel que traz consigo tudo aquilo que a gente não conseguiu fazer. Todas as promessas de ano novo não cumpridas e que vão ficar por isso mesmo, metade do ano já foi, "e você fez o que com a sua vida nesse tempo, idiota?". Você piscou e não viu o tempo passar, e daqui há pouco já é dezembro, e começa tudo de novo. Ao menos dezembro tem a gentileza de trazer a promessa de ~boas~ mudanças. "Ano que vem vai ser diferente", e de fato é, embora o diferente também signifique que possa ser pior.
A amargura está escorrendo pelos meus dedos, apesar dessa não ser a intenção inicial, quando abri o editor pra escrever esse texto. Minha intenção era falar em se reconectar com o passado, com a esperança perdida, com essa versão de mim que acreditava em coisas boas. Essa semana assisti o vídeo da Jout Jout, do Encerramento do canal dela. Me reconectou com esse "algo" perdido que eu não sei nomear, embora fizesse sentido nos meus ~tempos de juventude~.
Apesar da ironia, do sarcasmo e da amargura, sinto muita falta de acreditar em dias melhores. De ver vídeos como esse e acreditar que de fato tudo tem sentido, que o Universo com U maiúsculo tem um plano e que as coisas estão acontecendo como tem de ser, que vai dar tudo certo e que tudo está se encaminhando pra chegar no lugar. Mas quando as pessoas são brutalmente assassinadas e largadas pra morte e a população volta pro mapa da fome e as autoridades não fazem absolutamente porra nenhuma sobre isso, fica difícil acreditar que as coisas estão acontecendo como tem de acontecer. Porque se esse é o melhor plano do Universo, imagine, meu Deus, qual era o plano pior. Prefiro nem conhecer.
Enfim, "não sei se estou depressiva ou simplesmente brasileira" tem sido meu lema nos últimos dias. Estou reagindo de forma emocionalmente coerente com tudo que tenho visto em vida e pensei nunca ser possível, ou preciso de acompanhamento psiquiátrico? Ou ambos? Uma coisa não necessariamente anula a outra. Dá pra manter um mínimo de saúde mental tendo um mínimo de empatia em um país como esse? Já dizia o meme que "impossível tankar o bostil". Embora seja meme, pra mim é muito verdadeiro. Fazendo meme pode-se dizer tudo, inclusive a verdade.
Apesar de toda essa reclamação sem foco específico (tá tudo uma merda mesmo, dá nem pra listar), ainda tenho um resquício de esperança. Um sentimento lá no fundo do fundo que talvez as coisas possam mudar, e pra melhor. Uma esperança em algo que eu não vou dizer aqui, mas que quem sabe com isso o Brasil não possa ser feliz de novo. Que a gente possa ir Juntos pelo Brasil, sem medo de ser feliz. Quem sabe a gente não tem aí uns 13 motivos pra sorrir ano que vem de novo. Ando precisando urgentemente de uma boa notícia, e essa seria a melhor que eu poderia receber.
Enfim, mais uma vez. Estamos vivendo tempos difíceis. Pra uns, tempos mais difíceis que pra outros, mas ainda assim difícil pra todo mundo. Viver sendo dessa geração que teve todos os sonhos massacrados não está sendo fácil, mas esse não é um assunto que quero entrar nesse post. Embora descrente e com muita amargura, ainda tenho um pedacinho de nada daquela parte de mim que acreditava em dias melhores. E eu espero, sinceramente, que esse dia chegue. Estamos todos precisando.
2 comentários
Oi Marina <3 post muito catártico e fico feliz que você se sentiu à vontade pra falar a real e falar dos seus sentimentos abertamente, porque às vezes é sobre isso. São tempos difíceis e acho que o que mais pesa é a gente não poder falar sobre isso se não for uma crítica social foda ou uma reflexão incrível ou levante, sei lá. E se te ajuda em algo eu não acho que você precisa encontrar essa esperança como se fosse uma falha sua, sabe? Acho que ela está mesmo difícil de encontrar. E acho que se você ao menos puder encarar isso e falar abertamente dessa amargura é uma forma de deixá-la fluir e conseguir redirecionar sua energia em algo mais positivo e esperançoso. Não dá pra ficar falando de cordialidades o tempo todo e estar com todo esse peso nas costas (e na mente, e no peito, e no corpo inteiro). Enfim, espero não estar te deixando mais pra baixo com meu papo fatalista, hahaha!
ResponderExcluirMas o que quero dizer é que embora eu não ache que dá pra ficar sendo otimista e esperançoso nesses tempos, eu me identifico muito com o que você diz e o que me alivia é me juntar a, e ter apoio de pessoas que passam pelo mesmo, sentem o mesmo, e entender que é maior do que eu. Que talvez as coisas de fato melhorem aí com as eleições e de que eu tento todo dia trabalhar para fazer o mundo melhor para alguém, de alguma forma. Que sei lá, eu reciclo quando consigo, evito consumo de carne quando consigo, que eu tento ter empatia mesmo com quem não merece tanto. A gente sofre com os males do mundo mas não precisa se desdobrar por eles e talvez você precise de uma fonte de energia que não encontrou ainda, sabe? Não perca a esperança em você mesma. Fases ruins vêm e vão e não é tão rápido ou frequente, às vezes é uma viagem submarina de meses submersos e não uma viagem de montanha russa que dura 5 minutos, se é que me entende.
Espero que você possa vir pra superfície tão breve seja possível (:
Beijinhos!
Estamos assim, nessa desesperança, de quem éramos para o nosso verdadeiro eu. Tudo é como uma lição, e olhar para elas é dolorosa. Mas ao longo do tempo, é uma transformação, que cresce e evolui. E tá tudo certo, você ficará bem.
ResponderExcluirLeio tudo com carinho e respondo sempre que posso.
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