'Deixa por um momento o que deves fazer e descubra o que realmente fazes'

domingo, junho 19, 2022

A imagem mostra uma fotografia abstrata de várias tintas coloridas espalhadas sobre um tecido. As tintas são de várias cores diferentes e quase não é possível ver a tela embaixo dela

Esses dias estava fuçando no meu antigo Tumblr, dando uma olhada nas coisas que a Marina antiga costumava gostar, e me deparei com um texto do Perls. Para quem não sabe, Frederick Perls é um dos fundadores da abordagem da Gestalt-terapia, linha teórica da Psicologia que eu fiz e faço terapia por muitos anos, e que também utilizo para trabalhar, no momento presente.

O texto que achei no Tumblr foi um reblog de 2014, época em que estava aproximadamente no 3º período do curso de Psicologia e nem mesmo sonhava que seguiria por esse caminho. Eu só fui conhecer a Gestalt no último período do curso, quase um ano antes de me formar. Mas a vida tem dessas coincidências estranhas, e em 2014, sem nem mesmo saber quem era o autor, dei reblog em um texto que alguém publicou por lá. Já na época me identificava com as ideias da Gestalt, mesmo sem saber, e compartilho com vocês o texto que deu origem a esse post:

Seja como você é.

De maneira que possa ver o que és e como és.

Deixa por um momento o que deves fazer e descubra o que realmente fazes.

Arrisque um pouco, se puderes.

Sinta seus próprios sentimentos.

Diga suas próprias palavras.

Pense seus próprios pensamentos.

Seja seu próprio ser.

Descubra.

Deixe que o plano pra você surja de dentro de você.


Fritz Perls

Eu me cobro muito. Não é de hoje que falo sobre isso por aqui. Me cobro e sou impaciente e afobada. Quero que as coisas sejam resolvidas pra ontem. Não a toa, o trecho "Deixa por um momento o que deves fazer e descubra o que realmente fazes" tocou profundamente em meu coração. Preciso fazer um monte de coisas, e ando me cobrando muito por isso. Mal consigo dormir, de tanta preocupação. Preciso escrever e publicar o artigo da minha pesquisa, preciso conseguir um emprego que seja possível eu me bancar, preciso sair mais de casa e tomar mais sol, preciso fazer mais exercícios, preciso cortar meu cabelo, preciso limpar meu quarto e o viveiro das minhas calopsitas, preciso estudar, preciso e preciso e preciso e preciso... Mas estou deixando de lado as coisas que preciso fazer, pra descobrir o que realmente faço. Confesso que estou e não estou surpresa ao descobrir que resolvi abrir o editor do blog. Escrever sempre teve um espaço especial em minha vida, e, por mais que eu viva uma relação de amor e ódio com a escrita — amo escrever livremente, odeio escrever por obrigação — sempre acabo voltando para as palavras.

"Deixe que o plano surja dentro de você". A vida é uma coisa engraçada. A minha, particularmente, é cheia dessas coisas. Não acho coincidência que eu tenha seguido por esse caminho de ser Gestalt-terapeuta. Faz muito meu estilo. Aliás, falando em Gestalt e em coisas engraçadas, eu me lembro que, em 2018, antes de começar minha terapia e conhecer a Gestalt-terapia, eu fazia estágio seguindo a TCC (terapia cognitivo comportamental, outra linha teórica da psicologia). Achava que era isso mesmo, que eu seguiria por esse caminho, essa abordagem. Tinha certeza absoluta que era isso. Fazia estágio na clínica atendendo por essa linha, estudava (com o perdão da palavra) pra caralho e acumulava leituras dessa abordagem. E sem perceber, odiava aquilo. Tinha dificuldades com a TCC e achava que o problema era eu e não a abordagem que não me servia.

Ainda em 2018, conheci uma pessoa, uma mulher que dizia que sentia a energia das pessoas. Não me lembro a palavra que ela usou para se descrever, mas digamos que era algo como uma médium. Eu sou muito cética e nada disso faz parte das minhas crenças, mas eu não disse nada, afinal, vai saber? Não sou tão confiante assim. Cinco minutos conversando com essa moça, que também era estudante de psicologia na época, ela me faz a pergunta que todos fazem "qual sua abordagem?". Eu respondi que era TCC, e ela praticamente riu da minha cara. Me olhou com a mais pura expressão de 'nem fudendo' e me disse que eu não seguiria por esse caminho, que não tinha nada a ver comigo. Não batia com a minha energia sabe? Algo assim.

Como eu disse, eu sou cética. Fiquei descrente com as palavras dela. Ela nem me conhecia, e bem, quem essa moça pensa que é pra saber da minha vida? Na hora eu ri, disse que ela tava viajando e interpretei como um desafio. Até esqueci do que ela tinha falado. Mas uma série de coincidências atrás de coincidências me fizeram marcar com uma psicóloga Gestalt-terapeuta, que foi indicação de um cara, mas que na verdade, eu quem tinha conseguido o número dessa psicóloga em primeiro lugar, mas que não tive coragem de marcar. O número sempre esteve ali, na minha agenda, esperando o momento. Eu o consegui no meio do curso, salvei na agenda e esqueci completamente da existência dele, até esse cara (que me passou o número de novo depois), me pedir um contato de uma psicóloga, mesmo sem saber quem era.

Passado um tempo, voltei com o rabinho entre as pernas pra dar a notícia: "então fulana... não é que você tinha razão? A TCC não tem nada a ver comigo". Ela riu e disse "não falei?". Nunca mais duvidei de nada disso. Talvez tenha mesmo um sentido no mundo, o que Jung chama de "sincronicidade", mas que a gente está imerso demais na nossa condição pra perceber. Talvez a minha energia estivesse mesmo dizendo quem eu era, antes mesmo que eu me desse conta disso. Trocar da TCC pra Gestalt-terapia foi um desses momentos de sincronicidade, um momento de descoberta, como diz o Perls no texto que mencionei acima.

Foi, como muito do que acontece na minha vida, de última hora. Eu estava prestes a me formar. Não tinha visto nada de Gestalt-terapia durante os cinco anos de curso, mas resolvi arriscar. Ainda corro atrás do tempo perdido. Tenho vivência com essa abordagem, mas ainda me vejo agarrada em alguns conceitos básicos, preciso estudar mais. Apesar disso, não me importo. Me sinto em paz quando leio os textos dessa linha teórica, e gosto de fato de estudar sobre isso. Não preciso me forçar a ler nem aprender nada de Gestalt, leio, aprendo e estudo porque faz sentido pra mim. São poucas as coisas no mundo que me despertam esse tipo de sensação. No geral, eu preciso me forçar a fazer as coisas. Mas não com Gestalt.

Estar aqui e escrever. Compartilhar a minha vivência e falar de Gestalt. São (d)as coisas que faço quando deixo de lado, por um momento, aquilo que preciso fazer. Dizer minhas próprias palavras e sentir meus próprios sentimentos. Tudo isso faz sentido para mim. Como não sei uma forma bonita de finalizar esse texto, vou repetir as palavras do Perls, e espero que faça sentido na vida de vocês. Leia com carinho, e seja quem você é, como é. "Deixe que o plano pra você surja de dentro de você."

Seja como você é.

De maneira que possa ver o que és e como és.

Deixa por um momento o que deves fazer e descubra o que realmente fazes.

Arrisque um pouco, se puderes.

Sinta seus próprios sentimentos.

Diga suas próprias palavras.

Pense seus próprios pensamentos.

Seja seu próprio ser.

Descubra.

Deixe que o plano pra você surja de dentro de você.

Fritz Perls

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3 comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Sempre fui muito cética e hoje eu amo essa coisa de afirmações positivas, lei do retorno, coincidências, destinos. Nada como a vida abalando nossas certezas absolutas. Que bom que o tempo passa e a gente vai aprendendo, evoluindo e encontrando coisas novas para se sentir bem.

    Mesmo entendendo pouquíssimo de psicologia, me identifiquei muito com esse trecho que você postou. Me fez muito sentido também...
    Obrigada por compartilhar um pouquinho do teu mundo.

    Abraços
    https://falacatarina.com/

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  3. nossa eu amei muito esse post! eu também lembro de momentos da vida em que eu pensava ter MUITA certeza sobre algumas coisas, especialmente as que envolviam profissão, hoje eu olho pra trás e só dou risada de como era inocente. a gente muda, as condições de vida mudam, vamos aprendendo coisas nova sobre viver e sobre nós mesmos. normal mudar, né? por coincidência eu estudei sobre gestalt (não a terapia) na faculdade de arquitetura, isso sempre ficou no meu radar por ter achado interessante. anos depois, descobri ser uma abordagem da psicologia e acabei começando a me consultar com uma psico dessa área (inclusive preciso voltar kkkkk). e agora no curso de design que faço, também estão falando sobre gestalt. amo essas ~sincronicidades da vida (e acredito em energia e coisas místicas haha).

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