Sobre aqueles que passam por nós...
sexta-feira, outubro 28, 2016
Tem uma frase que eu gosto muito, e que a autoria dela é atribuída a Antoine de Saint-Exupéry (autor do livro O Pequeno Príncipe) que diz "Aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós". Sempre gostei dessa frase e da mensagem que ela passa. Às vezes me pego pensando em pessoas que eu conheci e que já não tenho tanto contato, e no quanto essas pessoas mudaram a minha vida. Na maioria das vezes, não foram grandes mudanças, às vezes foram coisas muito simples, mas que, justamente por essa simplicidade, fizeram uma mudança complexa. Em 2014 fiz um post falando sobre isso e uma pessoa comentou "talvez sejamos como um quebra cabeça formado de pedacinhos das pessoas que conhecemos, ou como você disse, que às vezes nem chegamos a conhecer".
Talvez seja mesmo isso. Consigo identificar algumas peças que os outros têm deixado em mim, e fico imaginando quais peças ainda serão encaixadas na minha personalidade, na minha vida e na minha visão de mundo. Qual imagem esse quebra-cabeça vai mostrar em alguns anos, e quantas pessoas ainda vão passar pela minha vida por isso. Dizem que o cérebro humano não é capaz de criar rostos, e todos os rostos desconhecidos que você vê em seus sonhos são de pessoas que você viu um dia, ou uma combinação da imagem dessas pessoas. Isso significa que, de uma forma ou de outra, até mesmo as pessoas que apenas passam por você influenciam sua vida. Como saber se você não seria uma pessoa diferente se não tivesse passado pelas pessoas que passou? E se você fosse realmente diferente, seria melhor ou pior do que é agora?
Nós nunca vamos saber. Isso é fascinante. E ao mesmo tempo assustador. O que nos leva a uma questão — a grande questão —, o outro lado da história: o que você tem deixado para as pessoas que passam por você? O que eu tenho deixado para as pessoas que passam por mim? Eu não sei. Espero estar deixando coisas boas. Sempre me impressiono quando alguém diz "pensei naquilo que você disse e..." porque é sempre impressionante quando eu percebo que estou de fato mudando a vida de alguém. Ainda que de forma mínima. E é ainda mais impressionante pensar que, mesmo depois de muitos anos, essas pessoas vão se lembrar de mim, ou, como diria nossa colega do comentário, vão ter uma peça minha em seu quebra-cabeça.
No fim, é como se carregássemos um monte de fantasmas. Os fantasmas das pessoas que passaram por nós e seguiram suas vidas. O fantasma do que disseram e fizeram e do que você pensou, fez e disse por causa dessas pessoas. Assim como somos o fantasma dos outros, do que fizemos e dissemos, do que eles fizeram e disseram por nossa causa. E, para complicar um pouco mais as coisas, quando você conhece alguém, você conhece a pessoa e seus fantasmas, e essa pessoa conhece você e seus fantasmas, e esses fantasmas, que agora são parte de ambos, influenciam e mudam a realidade de cada um. Por fim, aqueles que passam por nós, não vão sós, deixam um pouco de si e dos outros, e levam um pouco de nós e daqueles que carregamos conosco.
11 comentários
Esse texto é muito bom!
ResponderExcluirEu gostei de cada palavra...
Gostei do seu blog :)
Xoxo,Mari.
Blog: ♥ Depois de Julieta
Oi Mariana! Obrigada pelo carinho ♥
ExcluirNossa, que texto incrível. Eu até hoje nunca tinha parado para pensar nisso. Ler o seu texto me fez imaginar as pessoas que passaram na minha vida e imaginar de que forma ela contribuíram para o que sou hoje. A resposta é certa: sou o que sou devido às pessoas que passaram por minha vida. Se não fosse o contato com outras pessoas, hoje talvez estaria em outro lugar. Vejo que até mesmo as minhas escolhas profissionais e emocionais foram, de certa forma, influenciada pela pessoas que passaram por minha vida. Isso me faz pensar que nós somos uma construção social. Temos as nossas subjetividade, mas nos tornamos o que somos também com as pessoas que convivemos e deixamos para traz. Talvez, essas marcas sejam suficiente para manter um conexão entre as pessoas, ainda mais quantos as trocas são positivas. Vou pare de viajar. Adorei o texto. Faz um refletir sobre ao que ainda não tinha pensado.
ResponderExcluirAbraço!
Seu comentário foi perfeito! A gente pode até não ver, mas tudo o que a gente pensa, fala, a forma como a gente age, as coisas que pensa... tudo vem da influência dos outros. Até mesmo seu pensamento veio de uma influência, a minha hahaha'
ExcluirFico feliz que tenha gostado, sempre bom ver você por aqui!
Mariana.. Que texto ótimo. Linda e profunda a sua reflexão. Acho que nunca pensei por esse lado... E é realmente assustador. Quero dizer, o que somos, é uma curiosa e inacreditável coincidência das coisas e das das pessoas ao nosso redor (e essas pessoas, por sua vez, também são inacreditáveis coincidências das coisas e das pessoas ao redor). Tenso demais. Enfim, maravilhoso seu texto ♥
ResponderExcluir4mor--nuvem.blogspot.com
Assustador né? Piora se você tentar imaginar como seria se nunca tivesse conhecido determinadas pessoas, acho que dá pra surtar com algo assim ahahah' (não fique pensando nisso, ok?)
ExcluirBeijos!
Oh no! É tarde ahsuahu
ExcluirNão mudou nadinha sua capacidade de escrever coisas maravilhosas com tamanha simplicidade.
ResponderExcluirQue lindo seu comentário Kuroh!! Sempre fico nostálgica quando te vejo por aqui ♥
ExcluirTexto perfeito! Eu tenho sentido isso com muita frequencia, consigo ver os pedaços que as pessoas deixam em mim e as partes que deixo em outras pessoas, acho isso mágico. Nem percebemos direito essas fusões, né? Eu imagino como um tetris, as peças vão se encaixando até completarem a tela toda.
ResponderExcluirbruna-morgan.blogspot.com
Oi Bruna!
ExcluirPerceber isso é uma das coisas mais mágicas da vida! <3 Gostei da ideia do Tetris, assim como as peças do Tetris são diferentes, as pessoas também são.
Leio tudo com carinho e respondo sempre que posso.
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