Tem uma frase que eu gosto muito, e que a autoria dela é atribuída a Antoine de Saint-Exupéry (autor do livro O Pequeno Príncipe) que diz "Aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós". Sempre gostei dessa frase e da mensagem que ela passa. Às vezes me pego pensando em pessoas que eu conheci e que já não tenho tanto contato, e no quanto essas pessoas mudaram a minha vida. Na maioria das vezes, não foram grandes mudanças, às vezes foram coisas muito simples, mas que, justamente por essa simplicidade, fizeram uma mudança complexa. Em 2014 fiz um post falando sobre isso e uma pessoa comentou "talvez sejamos como um quebra cabeça formado de pedacinhos das pessoas que conhecemos, ou como você disse, que às vezes nem chegamos a conhecer".
Talvez seja mesmo isso. Consigo identificar algumas peças que os outros têm deixado em mim, e fico imaginando quais peças ainda serão encaixadas na minha personalidade, na minha vida e na minha visão de mundo. Qual imagem esse quebra-cabeça vai mostrar em alguns anos, e quantas pessoas ainda vão passar pela minha vida por isso. Dizem que o cérebro humano não é capaz de criar rostos, e todos os rostos desconhecidos que você vê em seus sonhos são de pessoas que você viu um dia, ou uma combinação da imagem dessas pessoas. Isso significa que, de uma forma ou de outra, até mesmo as pessoas que apenas passam por você influenciam sua vida. Como saber se você não seria uma pessoa diferente se não tivesse passado pelas pessoas que passou? E se você fosse realmente diferente, seria melhor ou pior do que é agora?
Nós nunca vamos saber. Isso é fascinante. E ao mesmo tempo assustador. O que nos leva a uma questão — a grande questão —, o outro lado da história: o que você tem deixado para as pessoas que passam por você? O que eu tenho deixado para as pessoas que passam por mim? Eu não sei. Espero estar deixando coisas boas. Sempre me impressiono quando alguém diz "pensei naquilo que você disse e..." porque é sempre impressionante quando eu percebo que estou de fato mudando a vida de alguém. Ainda que de forma mínima. E é ainda mais impressionante pensar que, mesmo depois de muitos anos, essas pessoas vão se lembrar de mim, ou, como diria nossa colega do comentário, vão ter uma peça minha em seu quebra-cabeça.
No fim, é como se carregássemos um monte de fantasmas. Os fantasmas das pessoas que passaram por nós e seguiram suas vidas. O fantasma do que disseram e fizeram e do que você pensou, fez e disse por causa dessas pessoas. Assim como somos o fantasma dos outros, do que fizemos e dissemos, do que eles fizeram e disseram por nossa causa. E, para complicar um pouco mais as coisas, quando você conhece alguém, você conhece a pessoa e seus fantasmas, e essa pessoa conhece você e seus fantasmas, e esses fantasmas, que agora são parte de ambos, influenciam e mudam a realidade de cada um. Por fim, aqueles que passam por nós, não vão sós, deixam um pouco de si e dos outros, e levam um pouco de nós e daqueles que carregamos conosco.
- sexta-feira, outubro 28, 2016
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