[Resenha] Carbono Alterado - Richard Morgan

quarta-feira, fevereiro 17, 2021

A imagem mostra a capa do livro com a ficha técnica logo ao lado. Essas informações se encontram por escrito logo abaixo dessa imagem

Ficha Técnica do livro Carbono Alterado para usuários de leitores de tela:

A imagem mostra a capa do livro, que se apresenta da seguinte maneira: no topo aparece a palavra Carbono, no rodapé do livro segue o nome do autor em letras pequenas, e em letras maiores a palavra Alterado. Ao centro da capa está a silhueta de uma pessoa com capuz e sobretudo, não é possível ver seu rosto. A sua volta, prédios e construções indicam um cenário ciberpunk. Para completar a atmosfera futurística da capa, as cores da capa são predominantemente tons de dourado, amarelo, laranja e preto, passando a sensação de um cenário futurístico e ao mesmo tempo decadente
 Título: Carbono Alterado (Trilogia Altered Carbon #1)
 Autor: Richard K. Morgan
 Ano: 2017
 Editora: Bertrand Brasil
 Páginas: 490
Sinopse: Um eletrizante thriller noir de ficção científica em adaptação para série do Netflix No século XXV, a consciência de uma pessoa pode ser armazenada em um cartucho na base do cérebro e baixada para um novo corpo quando o atual para de funcionar. A morte, agora, nada mais é que um contratempo inconveniente, uma falha no programa. Takeshi Kovacs, um ex-militar de elite, após sua última morte, tem sua consciência transportada a Bay City, a antiga São Francisco, e é trazido de volta à vida para solucionar o assassinato de um magnata. Isso só para descobrir que seu contratante é a própria vítima, que voltou à vida em um novo corpo, mas sem as memórias do crime. Mal sabe Kovacs, porém, que essa investigação irá lançá-lo no centro de uma conspiração perversa até para os padrões de uma sociedade que trata a existência humana como um produto a ser comercializado.


Resenha do livro Carbono Alterado de Richard Morgan: 

Carbono Alterado se passa em um futuro distópico, uma época distante da nossa, em que a humanidade iniciou um processo de colonização de outros planetas e descobriu uma nova tecnologia capaz de driblar a morte: o carbono alterado. Ao nascer, todos os seres humanos recebem um chip que será instalado na nuca, esse chip armazena a consciência de cada um: seus pensamentos, sentimentos, memórias, emoções, enfim... tudo que a pessoa vive desde o momento em que o chip é implantado até o momento da sua morte. Quando isso acontece, ou seja, quando uma pessoa "morre", o chip pode ser retirado do corpo antigo e passado para um corpo novo — no livro, os corpos são chamados de "capa". A Morte Real, chamada assim mesmo, com letras maiúsculas, só acontece quando o chip é destruído ou corrompido, impossibilitando o upload da consciência para uma nova capa. Como é de se imaginar, o sistema possui várias implicações sociais, em que os mais ricos são mais favorecidos com capas e recursos infinitamente melhores, e os mais pobres, embora consigam manter seu chip intacto no decorrer de sua vida, dependem dos recursos financeiros de seus familiares para comprar uma capa nova e voltar a vida, e por isso ficam armazenados por tempo indeterminado em um sistema próprio para isso. Dizendo de forma direta, os ricos vivem eternamente, enquanto os pobres "morrem" por falta de capa para todo mundo.

Esse início já mostra que Carbono Alterado foi uma leitura que eu curti bastante, principalmente pelas implicações sociais do livro. Particularmente acho incrível quando um autor cria um universo completamente novo, e esse universo é atravessado por questões políticas e sociais, tais como nossas sociedades atualmente. Para mim isso torna a leitura mais rica e interessante, além do universo se tornar mais verossímil. 

Apesar disso, Carbono Alterado tem um início um pouco lento, em que as informações sobre o universo do livro e sobre os personagens são oferecidas de forma muito devagar. A história se concentra na trajetória de Takeshi Kovacs, o protagonista, que é contratado para investigar o suicídio de um homem chamado Bancroft. O que torna tudo mais intrigante é que quem contratou Takeshi para investir esse suicídio foi o próprio Bancroft. Confuso? Eu explico: Bancroft é um homem rico, e como eu falei, os ricos possuem recursos infinitamente melhores que as pessoas comuns. Sendo assim, Bancroft é um homem de mais de 300 anos de idade, que possui capital suficiente para tornar sua Morte Real quase impossível. Seu dinheiro possibilita que ele compre sistemas de backup de consciência, que são realizados diariamente, de forma automática, todos os dias; Assim, mesmo que seu chip seja destruído, ele pode ser novamente re-encapado, pois sua consciência está armazenada em diversos pontos diferentes, incluído na nuvem, o que torna praticamente impossível que ele morra. Justamente por isso que Bancroft desconfia que seu suicídio na verdade foi um assassinato, são poucas as pessoas com acesso a esse tipo de recurso, e também são poucas as que sabem que isso existe. 

Devo ser sincera e dizer que o suicídio de Bancroft foi o que me deixou menos curiosa, no livro todo. Apesar da ansiedade em resolver o mistério, eu estava mais curiosa a respeito da realidade do livro e de toda a tecnologia criada do que no enredo "verdadeiro" do livro. Nosso protagonista é um homem que veio de outro planeta, colonizado por japoneses, chamado Mundo De Harlan. Por vir de um mundo mais novo, e consequentemente menos conservador, Kovacs sente um choque cultural imenso ao chegar na Terra: seja com os católicos (os religiosos que discordam a política do carbono alterado e é claro, vão ter várias implicações na investigação que ele está fazendo), seja com os Matusas, como são chamados as pessoas que vivem mais de 100 anos. Aqui, um ponto interessante: existe um ódio de classe imenso em relação aos Matusas, e com toda razão. Por viverem muito tempo, possuírem muitos recursos e estarem na Terra há gerações, vendo impérios e civilizações caírem, os Matusas veem a si mesmo como deuses, acima do bem e do mal, ricos o suficiente para viverem centenas de anos, poderosos o suficiente para tirarem qualquer um de seu caminho. Nesse ponto, acredito que nem preciso dizer de que lado estou, mas só pra deixar claro, estou do lado que odeia os Matusas. Assim como no nosso mundo, a política do carbono alterado foi feita por e para privilegiar os mais ricos, em que as pessoas ricas vão ficando cada vez mais ricas (e mais vivas) enquanto os pobres continuam pobres e morrem cada vez mais. Bom xibom, xibom, bombom.

Carbono Alterado é um livro cheio de detalhes, e não é a toa que virou uma série da Netflix. O universo do livro foi muito bem construído, e todas as pontas soltas são fechadas. Os personagens também possuem certo carisma e personalidade que te envolvem. Kovacs, o protagonista, embora tenha a frieza de um psicopata, desperta empatia em quem está lendo. Fiquei pensando em todas as Mortes Reais que ele presenciou, e no quanto uma Morte Real afetaria uma pessoa vivendo em um futuro como esse. Perder uma pessoa que poderia ser re-encapada é uma perda, até certo ponto, temporária. Mas perder alguém por morte real é diferente: se no mundo real alguns se consolam com a ideia de ver seus entes queridos de novo, no pós-morte, no livro essa ideia não existe, uma vez que a pessoa não pensa que ela própria irá sofrer de Morte Real. Mortes Reais são eventos trágicos e raros, que devem ser evitados a todo custo, estando sujeitos somente aqueles que se envolvem em situações de risco. O que foi perdido se perdeu para sempre. Não existe nenhum meio de recuperar um cartucho destruído. É a morte como a conhecemos.

Por fim, Carbono Alterado foi uma leitura intrigante. Não só pelo mistério, mas por todo o universo criado pelo autor. Todos os detalhes foram bem pensados, e o mais interessante é que, apesar da história se passar no futuro, com uma tecnologia capaz de revolucionar a vida como a conhecemos, percebemos que (ao menos na imaginação do autor) a vida na Terra não mudou muito: opressão, desigualdades, luta de classes, gangues, traficantes, corrupção... tudo que existe e tem de pior no nosso cenário atual permaneceu como ponto central no universo criado pelo autor. Espero encontrar algumas facetas mais otimistas nos próximos volumes da trilogia quem sabe uma revolução popular :)

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2 comentários

  1. Oi Marina!

    Acho interessantíssimo como não importa quanto tempo passe, a vida humana segue repleta de desigualdades. Tava estudando a história da saúde no Brasil e vi coisas que ainda acontecem hoje, que começaram no Brasil colonial, sabe? Então acho que não apenas enriquece a história quando uma ficção futurística traz esses conflitos por enredo, mas é a realidade. Vamos ainda lutar muito pra uma experiência humana menos desigual, acho.

    Mas enfim, sobre o livro! Adorei a proposta e achei massa você já trazer a informação de que vai virar série, porque eu 100% vou querer assistir! Uma pessoa me deu a dica de ver as coisas antes de ler, pra me frustrar menos com problema de adaptação, já segui a dica uma vez e achei ótima, vamos de novo HAHAHAHAHA! Adoro essas histórias distópicas que colocam alguma reflexão social, então é bem a minha praia!
    Não sei se você curte anime, mas Psycho-Pass tem a mesma pegada. É sobre um mundo futurístico onde um sistema mede um coeficiente 'cerebral' que sugere a inclinação criminal das pessoas. Se ele passa de um certo número, a pessoa é eliminada por ser um criminoso em potencial. Tem várias críticas interessantes, nesse clima também!

    Respondendo seu comentário: menine, até agora as metas têm ido bem. Emprego na psicologia é difícil e enquanto nosso conselho não oficializar as coisas (tipo: FUCKING PISO SALARIAL, CFP), acho que vai seguir difícil. É uma profissão elitista e pobres como eu saem tropeçando, HUAHUZSAHUSHAU! O que eu fiz foi começar numa clínica privada, ganhando pouco e trabalhando horrores, me organizar financeiramente e quando saí de lá, consegui montar um consultório sem me endividar. Daí, cadastrei no google empresas e só esse comecinho de ano já recebi vários contatos. Página no instagram também ajuda pra caramba! Se você tá no mestrado, não sei aí onde você mora, mas aqui em SP abre portas pra universidades privadas, pra dar aula mesmo. No mercado capitalista, o que eu e outros colegas temos visto é que não faz muita diferença D: Vale mais uma especialização qualquer pros patrões do que um bom mestrado numa boa universidade.

    Agradeço pela dica do ebook, vou dar uma olhada sim!

    Beijinhos :*

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  2. Comecei a ver a série na Netflix quando ainda não tinha um mínimo de consciência de classe. Lembro que não entendi nada e acabei desistindo. Porém, a tua resenha me deixou bem interessada! Quem sabe eu dê ao livro uma chance, pois parece ser melhor construído que a série, pelo que você fala, hah.

    Acho interessante como uma das temáticas mais comuns na ficção científica são essas questões sociais. Sempre dá uma nova perspectiva pras coisas, e é muito triste encontrar gente que leu obras assim e ainda não entendeu (e continuam replicando a ideologia dominante).

    Beijinhos!
    Masha Alkhim

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